"Tel Aviv está quieta, não ok"
- Tel Aviv está ok? - pergunto ao recepcionista ao observar a orla da metrópole econômica de Israel, pressupondo maior tranquilidade do que em regiões do sul do país.
- Quieta, sim. Ok, não - ele responde.
Compreendo o tom irônico. Talvez leve tempo para ficar tudo ok. O pior é esse silêncio na badalada cidade de 435 mil habitantes, capital econômica de Israel.
No início da tarde de ontem, a normalmente lotada orla servia de passeio para poucos pedestres que foram correr sob o pôr do sol do Mediterrâneo. Nas ruas, também eram raros os estabelecimentos comerciais abertos. Só tinham permissão para funcionar as casas que contivessem abrigos antiaéreos ou "quartos de pânico". A regulação impediu muitos mercadinhos, padarias e outros comércios pequenos de abrir.
Em Tel Aviv, quando as sirenes antiaéreas soam, cada um tem um minuto para correr para o abrigo. É tempo suficiente se você está vestido no quarto ou caminhando na calçada a poucos metros dos albergues públicos.
Situação bem diferente da registrada no sul de Israel, nas comunidades atingidas pelos terroristas do Hamas, onde deve-se atingir o destino em no máximo 15 segundos.
No hotel onde ZH montou sua base, próximo à antiga embaixada americana (a representação diplomática foi transferida para Jerusalém, no governo Donald Trump), o bunker fica na área central de cada andar - todos têm interconexão por escada.
Úmida e sem ventilação, a sala superprotegida - que em tese é capaz de resistir a um bombardeio - é pouco confortável. Parece mais um depósito do setor de limpeza do hotel. Ali, há vários colchões enfileirados compartilhando o espaço de 10 metros quadrados com materiais de limpeza, sacos com rolos de papel higiênico e alguns travesseiros.
Desde que ZH chegou a Israel, nesta quarta-feira, as sirenes antiaéreas não soaram em Tel Aviv. Mas foi possível escutar três estrondos vindos do Sul, semelhantes a disparos: todos entre 15h37min e 17h. A primeira reação é tentar decifrar se são mesmo explosões ou se é algum barulho normal das ruas.
Como Tel Aviv está em silêncio, é difícil se enganar. O estampido é seco. Na sequência, escuta-se o latir de cães, tão incomodados quanto os humanos.
Como as sirenes não dispararam no período em que estou aqui, deduzo que ou o barulho tenha sido fruto de um ataque israelense a Gaza, localizada a 70 quilômetros de Tel Aviv, ou seja resultado da interceptação de um foguete do Hamas pelo sistema antimíssil israelense, o Domo de Ferro.
A verdade é que é difícil dormir. Muitos deitam vestidos para sair às pressas, se necessário. Tel Aviv é uma cidade de receosos: dos sons, das próprias pessoas e do futuro.
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