sábado, 21 de outubro de 2023



21 DE OUTUBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

JARDIM INESPERADO

Nada é mais belo do que o inesperado que encanta. Assim, tenho a obrigação de transmitir aos leitores o que senti, dias atrás, ao visitar o Jardim das Esculturas, na área rural do município de Júlio de Castilhos, quase Nova Palma. Ali, o escultor Rogério Bertoldo, de 56 anos, um autodidata que cursou só até a 6ª série do Ensino Fundamental, construiu um imenso jardim escultural com quase mil peças em pedra de arenito.

É o maior conjunto de esculturas do país, talvez das Américas, com a beleza de um canto à vida que leva a deixar atrás as atrocidades das guerras, da Ucrânia à Faixa de Gaza. No interior do RS, a paz e a vida brotam da pedra e suplantam o horror do matar e destruir típico dos conflitos, como agora na Cisjordânia.

Sozinho, Rogério corta o duro arenito a machadadas, mas com a suavidade de quem sabe o que a futura escultura vai expressar. Quando lá cheguei, ele cortava o arenito já para esculpir os detalhes da nova peça.

O Jardim é imponente. Um imenso Buda domina a visão e leva a centenas de esculturas em que mulheres, homens e crianças mostram posições das artes marciais hindus. Os detalhes são precisos, e o arenito se confunde com a própria vida.

Ali a arte viceja como se tudo nos apontasse que somos irmãos até da dura pedra por habitarmos o mesmo planeta. As muitas estátuas em posições de ioga, com os pés em volta do pescoço, são modelos da habilidade do próprio Rogério, que é também mestre em artes marciais.

Morei 22 anos em Buenos Aires e acompanho a eleição presidencial deste domingo na Argentina com preocupação. O antigo celeiro do mundo é, hoje, um país em desordem financeira, com inflação superior a 100% ao ano. Isto propiciou que aventureiros demagogos dominassem a política, como o candidato presidencial Javier Milei, vencedor nas "prévias", que confunde alhos com bugalhos e quer abolir até a moeda argentina.

O triste fenômeno é nosso conhecido e provém da confusa ignorância dos políticos atuais, só interessados pelo poder pessoal.

FLÁVIO TAVARES

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