Só tinha de ser com você
No meio de um mundo que parece ter enlouquecido de vez, uma pérola de pura delicadeza e alegria - e que serve como um lenitivo para tanta tristeza - pode ser assistida nos cinemas de todo o país.
Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você é o documentário de Roberto Oliveira e Jom Tob Azulay que mostra momentos essenciais da gravação do lendário álbum Elis & Tom, de 1974, que fez sucesso internacional e que marcou a carreira não só de Elis Regina e Tom Jobim mas da história da MPB. (A abertura do longa traz o registro das orientações que o maestro dá a Elis para interpretar Águas de Março, dueto que se tornaria um emblema do nosso melhor.)
Trabalhando como empresário de Elis Regina à época, Roberto de Oliveira conta que teve a ideia de promover o encontro entre ambos e logo a produção de um disco, que seria presente da gravadora Polygram a Elis por seus 10 anos de casa.
Havia empecilhos, a começar pela desinteligência entre os dois artistas, que tinham concepções musicais muito distintas, e que poderia levar a empreitada ao fracasso - e quase levou. Trabalho aceito e pontas mais ou menos arredondadas, decidiu-se que o álbum seria gravado em Los Angeles, onde Tom morava. Ao chegar nos Estados Unidos, Oliveira percebeu que estava diante de um evento histórico e decidiu filmar as gravações, iniciativa que rendeu um making of precioso, cujo valor documental é difícil de estimar.
Feitas com uma sensibilidade muito grande, essas gravações se detêm em momentos capitais do disco, nuances do processo que revelam a busca de ambos pela expressão perfeita, a felicidade do encontro desses dois gênios (embora ela não apreciasse lá muito a bossa nova) e, mais do que tudo, a sensação de absoluta transcendência que era/é evocada ao se escutar Elis cantando e Tom tocando.
Por quase 50 anos, Oliveira guardou mais de cinco horas de registros, dando a conhecer esporadicamente alguns trechos das gravações. Para realizar o filme no formato de documentário, o material passou por um tratamento apurado de imagem, e o som foi retrabalhado com inteligência artificial, que o deixou mais claro e limpo.
A bem de compor a história desse álbum, o filme ouviu instrumentistas que tocaram no disco (alguns que sofreram não pouca resistência por parte de Tom), ex-executivos da gravadora Polygram e profissionais da técnica. Cesar Camargo Mariano, André Midani e Roberto Menescal contam como se desenrolou o trabalho e como os percalços, que não foram poucos, surgiram e foram sendo superados. O resultado é um filme que os espectadores aplaudem durante a projeção, sinal de que a genialidade resiste ao tempo.
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