terça-feira, 31 de janeiro de 2017



31 de janeiro de 2017 | N° 18756 
DAVID COIMBRA

Fiquei com pena do Eike

Sei que as pessoas estão sedentas de sangue, mas fiquei com pena do Eike Batista. Vê-lo de cabeça raspada, entrando no camburão da polícia, não me fez bem. Saber que, neste momento, ele está vivendo num cubículo precário, na companhia de outros cinco presos, não me traz alegria.

O próprio Eike admite ter errado, ele já insinuou isso. Ou até já deixou isso claro. É certo que deve ser punido, portanto. O problema é o que significa a punição por encarceramento em um dos presídios do nosso país.

Você, que está com a justa raiva da corrupção, haverá de gritar: dos outros você não sente pena?

Acontece que sinto. Nenhum ser humano merece viver num desses calabouços que o Estado brasileiro mantém. A diferença é que o criminoso do colarinho branco, o estelionatário, o vigarista comum, esses não são violentos e não estão habituados à violência.

Nesses casos, a punição é ainda mais dura. Eike precisará de muito estofo e muita têmpera para sobreviver.

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Medo de estupro

Entra, na categoria dos criminosos não violentos, Sérgio Cabral.

Outro dia, Sérgio Cabral foi visitado por um integrante do governo do Rio de Janeiro. Ele pediu que, “pelo amor de Deus”, o governador Pezão mandasse outro carro-pipa para abastecer o presídio.

– Quando havia água, eu era bem tratado – explicou. – Agora, faz dias que não tomo banho, porque tenho medo de ser abusado fisicamente pelos outros presos.

Ou seja: o ex-governador do Rio tem medo de ser estuprado na cadeia.

Exemplo

Tudo isso é terrível, é desumano e é uma tragédia brasileira, mas que, pelo menos, sirva de exemplo. Que, pelo menos, outros ocupantes de cargos públicos tenham medo.

O medo, nesses casos, é civilizatório.

Saída de Walace pode desacertar o Grêmio

O Grêmio perdeu a sua viga de sustentação. Walace é o tipo de volante que, com três passadas, atravessa a grande área de uma risca a outra. Ele tem senso de colocação, velocidade e técnica. Com ele na frente, Geromel pode arriscar-se a sair, como saiu para fazer a jogada do gol decisivo na Copa do Brasil, e até o chutão de Kannemann fica simplificado.

Walace é o volante mais parecido com Dinho que o Grêmio conseguiu, desde a década de 1990, uma pedra preciosa que só é descoberta de 20 em 20 anos.

Na Olimpíada, o ingresso de Walace na Seleção permitiu que Luan preparasse o jogo para Neymar e os dois Gabriéis. Foi Walace quem acertou aquele time.

Sua saída pode desacertar o Grêmio. Segunda divisão trouxe violência ao Inter

Nunca ter caído para a Segunda Divisão era uma distinção que o torcedor do Inter tinha. Servia de arma secreta nas discussões com os amigos gremistas. A flauta ia, vinha e, no fim, o colorado sacava o argumento decisivo:

– É, mas nós nunca caímos para a Segunda Divisão.

A perda desse trunfo foi, por isso, um desgaste, um estresse.

Mas faz parte do esporte. Títulos e quedas acontecem.

O que não pode acontecer é um revés extrair do torcedor o que ele tem de pior: a violência.

No ano passado, torcedores colorados atiraram um tijolo em uma mãe com um nenê no colo – aliás, uma mãe colorada.

No último domingo, vi, pela TV, um torcedor jogando no outro (aliás, colorado) uma pedra do tamanho de um punho de homem, a três metros de distância.

Isso mata um. Nenhuma desgraça esportiva é maior do que uma desgraça dessas.

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