16 de janeiro de 2017 | N° 18743
CÍNTIA MOSCOVICH
Copacabana, Alemanha
Para quem gosta de boas histórias – mas boas histórias mesmo, aquelas que fazem com que a gente não desgrude da leitura por nada no mundo –, a grande recomendação é, sem dúvida, O Romance Inacabado de Sofia Stern (Record, 256 páginas), terceiro livro do escritor carioca Ronaldo Wrobel.
O enredo envolve um jovem advogado que recebe um telefonema da Alemanha avisando que sua avó, a Sofia Stern do título, está sendo procurada por uma juíza de Hamburgo. Num susto, o advogado, também de nome Ronaldo, fica sabendo que sua avó, que se refugiou no Brasil escapando do nazismo, é a suposta proprietária de uma caixa de joias perdida desde a II Guerra Mundial e que vale, por baixo, 6 milhões de euros.
Para garantir a fortuna, Ronaldo e Sofia devem viajar para a Alemanha. Se inicia um turbilhão de episódios, com direito a diários de juventude, a descoberta de uma amizade que nem a guerra destruiu, a um romance com desfecho lastimável – e até ao desaparecimento da avó, que só vai ser encontrada, madrugada alta, cantando ébria numa boate de Copacabana.
Reunindo literalmente o melhor de todos os mundos, baseado em sólido trabalho de pesquisa e de recriação de época, O Romance Inacabado de Sofia Stern une a malemolência carioca à severidade europeia e à moral esfacelada dos tempos de guerra, junção que resulta num texto fluido, preciso e consistente. Thriller dos bons, como nas melhores histórias de suspense – todas as histórias são de suspense, diria nosso Luis Fernando Verissimo –, há um mistério ao qual vão se sobrepondo outros mistérios, tudo isso aliado ao silêncio da avó, que aos poucos perde a lucidez e a própria identidade.
Autor elegantíssimo e com grande senso de proporção, Wrobel consegue manter o fio da prosa sempre tenso: as informações vêm em hora precisa e na medida exata, virtude que faz com que o leitor se sinta recompensado. Valendo-se do recurso de romper a linearidade narrativa, com idas e vindas no tempo e no espaço, Wrobel consegue a proeza que já obtivera com Traduzindo Hannah, seu romance anterior: escrever um grande livro.
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