quinta-feira, 5 de janeiro de 2017



05 de janeiro de 2017 | N° 18733 
DAVID COIMBRA

Para quem está sempre comigo

Agora, tenho que fazer uma homenagem a quem me acompanha sempre, nos momentos bons e nos ruins, a quem me distrai, me alegra e me conta as coisas do mundo, a quem me desperta pontualmente todas as manhãs, evitando que me atrase para o trabalho, a quem me mostra o caminho, quando me sinto perdido: o meu telefone celular.

Mais valor tem essa homenagem porque nossa relação não foi fácil. Como num filme romântico de Hollywood, no começo eu o desprezava. Sim. Confesso, envergonhado, que só fui aderir à telefonia celular depois dos 40 anos de idade.

Já era editor de Esportes de Zero Hora e o diretor de Redação, o Marcelo Rech, se irritava:

– Tu tens que ter um telefone, pra gente te achar a qualquer hora, se for necessário. A Marcinha dizia exatamente o mesmo. Para não perder o emprego e a mulher, adquiri, contrafeito, meu primeiro celular.

Mas continuei renitente, não me entreguei assim tão fácil. Foi só ESTE celular, que acalento agora mesmo em meus braços, que me conquistou. Chamo-o de Jorge. Porque, por algum motivo, ele me lembra meu velho amigo de infância, o veloz ponteiro-direito do Huracán e manemolente dançarino das pistas do Gondoleiros, Jorge Barnabé.

Curioso é que não o escolhi: ele me escolheu. Afinal, não fui à loja, não apontei para ele na vitrine e disse:

– É esse. Não. Foi me dado de presente pelo Professor Juninho, de segunda mão. Não usado, não velho: experiente. 

Aos poucos, fui me afeiçoando. Hoje, não vivo sem ele. Nele, jogo xadrez online. Nele, leio as notícias. Nele, ouço a Gaúcha. Nele, contemplo esse painel da alma humana do século 21 que é o Facebook.

Jorge é meu companheiro. Salve Jorge.

Entendo as pessoas que ficam o tempo todo olhando para seus celulares. Elas são criticadas, mas estão certíssimas: não há nada melhor para fazer. Levante a cabeça e observe o mundo em volta. Tudo tão igual. Retornemos rápido às redes, a fim de opinar sobre a polêmica do dia.

Por que conversar com uma pessoa em pessoa se você pode conversar por WhatsApp? Conversar pessoalmente é muito... pessoal. O interlocutor faz uma pergunta e você tem de responder de imediato. Por celular, você pode refletir um pouco, pode até consultar o Google, se tiver alguma dúvida. Então, sua resposta virá perfeita, redonda, impecável.

Você é mais sábio quando conversa por celular.

Namorar por celular, por exemplo. Tem coisa melhor? Você está ali, passando um xaveco por Whats na pretendida. Aí ela diz algo surpreendente, que é o que fazem as belas mulheres. Se vocês estivessem na mesa de um bar, ela veria sua expressão de imbecilidade, perceberia que você ficou sem resposta. Mas vocês estão conversando pelo agradável e higiênico modo virtual. Você pode copiar o diálogo e mandar para um grupo de amigos, consultando:

“Help! O que que eu faço???” Os amigos darão várias ideias, você escolherá a melhor e repassará para a inhugazinha. Ela, ao ler sua mensagem graciosa e inteligente, pensará:

“Que homem!” Gol do Brasil. 

Pare de falar mal das pessoas com seus celulares. O celular é nosso amiguinho.

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