sábado, 7 de janeiro de 2017



07 de janeiro de 2017 | N° 18735 
DAVID COIMBRA

As cinco coisas mais brasileiras do Brasil

Ao vir morar nos Estados Unidos, descobri o que há de mais brasileiro no Brasil. Por causa do mate.

Tomo mate todos os dias. No verão, durante o Timeline. No inverno, depois.

Mas onde encontrar erva para o reabastecimento mensal? Um compatriota deu as coordenadas – perto daqui, 15 minutos a passo estugado, numa localidade chamada Allston, há um mercadinho brasileiro. Lá, além da erva e dos apetrechos para o chimarrão, existem produtos impossíveis de serem encontrados em supermercados americanos.

Perceba o significado disso: tudo o que se vende no Brasil pode ser comprado nos Estados Unidos. Mais: com a internet e as facilidades de comunicação, não há o que aconteça abaixo da Linha do Equador que eu não fique sabendo em mínimos minutos. Falo com as pessoas olhando-as nos olhos, pelo Skype, assisto ao Jornal Nacional, vejo todos os jogos da Dupla, tudo. Inclusive, estou encantado com o seriado que a Globo apresentou sobre o José Aldo, lutador de MMA. É uma pequena obra-prima, do nível de Touro Indomável, aquele filme em que o Robert de Niro, para fazê-lo, teve de emagrecer 27 quilos.

É um mundo globalizado, apesar dos grunhidos de Trump. Um mundo plano. E, de certa forma, pasteurizado.

Mas há alguns poucos produtos, mais especificamente cinco, que resistem à globalização, são exclusividade brasileira, vicejam apenas no gosto dos nossos conterrâneos. Os seguintes:

1. Guaraná.

2. Aipim.

3. Requeijão.

4. Bolacha Maria.

5. Já conto qual é o quinto.

O guaraná é um clássico. Os americanos dizem que é parecido com o ginger ale, um refrigerante que eles fazem à base de gengibre, mas não é. O ginger ale é rascante e deixa a garganta meio pastosa, está longe da refrescância do guaraná.

O aipim, há quem diga que tudo o que pode ser feito com a batata pode ser feito com o aipim, e é verdade. Só que a premissa contrária não é verdadeira. Carne de panela com aipim há de ser feita com aipim, jamais com batata. Você pega o molho denso da carne de panela e mistura com o aipim molezinho e amassa tudo e fica bom de gemer baixinho.

O requeijão, quem diria?, é brazuca até os gorgomilos. Admito que, morando no Brasil, jamais dei ao requeijão o valor que ele merece. O requeijão, para mim, sempre foi uma eventual cobertura do pão. Agora, não. Agora, sempre tenho um pote em casa, porque sei que se trata de algo que é comum tão somente aos brasileiros. Nem sempre como requeijão, mas sempre estico um olhar nostálgico para o pote que repousa na minha geladeira e lhe digo, com alguma ternura:

– Oi, requeijão.

A Bolacha Maria. Eis. Esse nosso admirável mundo novo é um mundo pleno de biscoitos. Há de um tudo. Há biscoitos recheados, há aqueles cream crackers, há bolachinhas pequenas, médias e grandes. Mas a velha Bolacha Maria, essa é brasileiríssima como Machado de Assis. No dia em que compro o pacote, vou correndo para casa, cimento dois discos de Bolacha Maria com manteiga e rego a café preto. Nessas tardes, o melhor é estar chovendo. Então, sinto-me outra vez na casa da minha avó. A senhora faz falta, dona Dina.

O quinto elemento, deixei-o para o final porque é o único que não encontro nem no mercadinho de Allston. É o chope.

Aqui eles vêm com aquela história de draft beer. Juram que é o mesmo que chope. Não é. Ainda que a draft beer venha do barril e jorre de uma torneira, não tem o mesmo sabor. O chope nacional, tirado à pressão, servido em copo de cristal, encimado pelo creme de um colarinho de dois dedos de altura, gelado como o coração de Alinne Moraes, esse chope é a melhor bebida da Terra. Não me venha com champanhe Cristal, não me venha com Romanée-Conti, Diva Vodka, cognac Henri IV, nem mesmo com Scotch The Macallan ou Tequila Ley. Quero o chope. Viva o chope, mais brasileiro do que Pelé, feijão com arroz e samba. O chope é a seiva que nos torna únicos. Chopes gelados, dourados e cremosos. Que saudade.

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