sexta-feira, 6 de janeiro de 2017



06 de janeiro de 2017 | N° 18734
CONTO DO VIGÁRIO

O CASO DO FALSO PADRE
JOVEM DE 18 ANOS rezou missas e até ouviu confissões em Imbé, mas não era sacerdote
Na noite de Natal e na manhã seguinte, os fiéis católicos do balneário Presidente, em Imbé, no Litoral Norte, testemunharam duas das missas mais memoráveis já vistas na capela Santo Antônio de Pádua. Mas, na verdade, haviam caído em um legítimo conto do vigário: o padre responsável por conduzir as celebrações e tomar a confissão de vários fiéis não era um sacerdote de verdade, mas um jovem de 18 anos que se fez passar por religioso e desapareceu quando começaram a suspeitar dele.

Uma ocorrência de falsa identidade foi registrada na Polícia Civil de Imbé sob o número 60/2017.

– Não entendemos por que ele fez isso. Enganou todo mundo, mas não ganhou nada. A decepção entre a nossa comunidade está muito grande com esse fato, porque todos gostaram muito dele e das celebrações que ele deu – lamenta a coordenadora da capela, Vera Hahn, 62 anos.

IMPOSTOR ENCANTOU OS FREQUENTADORES

Tudo o que os devotos do balneário queriam era um padre para celebrar o Natal – o sacerdote que costuma tirar suas férias na localidade e rezar as missas durante parte do veraneio só chegaria alguns dias mais tarde. Surgiu, então, uma possibilidade que parecia caída do céu: um jovem supostamente recém-ordenado estava passando o final de semana na casa de um amigo seminarista a poucas quadras da igreja.

O seminarista, que referendou o falso sacerdote, assegura também ter sido enganado:

– Conheci o rapaz quando ele estava rezando uma missa em Criciúma, há algumas semanas, e ficamos amigos. Ele meio que se ofereceu para passar uns dias com a minha família aqui em Imbé e se prontificou a rezar as missas – lamenta o seminarista, que prefere não se identificar.

Os fiéis que lotaram os bancos sagrados se surpreenderam com o talento do moço – que afirmava ter 20 e poucos anos – ao desempenhar o papel de pastor de almas. Com uma batina emprestada pela própria igreja, recebia a população de braços abertos, dando boas-vindas à casa de Deus. Durante o sermão natalino, discorreu com esmero sobre o significado do nascimento de Jesus.

– Todos ficaram encantados. Até meu marido, que não gosta muito de missa, ficou comovido. Adorou – conta uma fiel que também prefere não dizer o nome.

Ao final da celebração, o pretenso religioso perguntou quantos dos presentes ali compareceriam outra vez à igreja na manhã seguinte, domingo, às 8h, para um novo encontro. Apenas um ou outro fiel ergueu os braços. O rapaz declarou:

– Não tem problema. Assim como Jesus disse que estaria onde houvesse duas ou três pessoas reunidas em nome dele, eu também estarei aqui por vocês.

Na manhã seguinte, cumpriu a promessa e comandou outra celebração. Familiar do seminarista que recebeu o falso padre em sua casa, uma costureira de 64 anos revela até ter se confessado com ele, a exemplo de outros frequentadores.

– Eu só estranhei um pouco quando fui pagar a penitência e me dei conta de que ele havia esquecido de me dar a absolvição. Me confesso a cada Natal, e agora minha confissão não teve validade. Me sinto muito decepcionada, porque gostei muito do moço. Sinto até pena dele, talvez sonhe ser padre – sustenta a costureira.

marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

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