sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


20 de janeiro de 2017 | N° 18747 
CLÁUDIA LAITANO

A rainha e as manicures


Uma delas estava aos meus pés – aparando cutículas. A outra, ao meu lado, cuidava das minhas mãos. Atrás de mim, uma terceira secava meus cabelos. (Por 30 minutos e algumas dezenas de reais, toda mulher é rainha no salão de beleza.) Sem perder o foco no trabalho, as duas primeiras trocavam figurinhas sobre a faculdade. Uma delas havia trocado de universidade recentemente, atraída pelo desconto na mensalidade oferecido por outra instituição, cerca de R$ 300, mas mesmo assim andava difícil dar conta de todos os compromissos no final do mês. 

A outra havia mudado de bairro para ficar mais perto do trabalho e agora morava longe da faculdade, o que roubava minutos preciosos do dia em transporte. Nenhuma das duas estava conseguindo fazer todas as cadeiras recomendadas – às vezes por falta de tempo para conciliar o trabalho e os estudos, às vezes por falta de grana para as mensalidades. Apesar disso, o tom da conversa não era de desânimo. Pelo contrário. As duas pareciam decididas a realizar todos os malabarismos necessários para terminar o curso, fosse no tempo que fosse. Para meninas como elas, chegar à faculdade é uma conquista. Concluir é teimosia.
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Scientia potentia est” (conhecimento é poder), expressão em latim atribuída ao filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), é o título de um dos melhores episódios da série da Netflix The Crown, que retrata os primeiros anos de reinado da rainha Elizabeth II. Pouco tempo depois de ter sido coroada e começar a conviver com políticos e homens de negócios do mundo todo, a jovem rainha da Inglaterra se dá conta de que não havia recebido uma educação adequada para assumir o posto de mulher mais poderosa do planeta. 

Excluída do ensino formal desde a infância, os únicos conteúdos no qual havia sido treinada eram etiqueta, of course, e o tanto de Constituição que um futuro monarca deveria dominar. Para todo o resto – ciências, artes, história –, a rainha era analfabeta. “Não aguento mais ter que desviar todas as conversas para cavalos e cachorros”, queixa-se a certa altura do episódio. Para sorte dela, seu emprego não era tão exaustivo a ponto de impedi-la de recuperar o atraso. Contratou um tutor particular e começou a estudar.

Scientia potentia est.

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