terça-feira, 24 de janeiro de 2017


24 de janeiro de 2017 | N° 18750
PREVIDÊNCIA


Onde trabalhar depois dos 65 anos é desafio da reforma

ESPECIALISTAS DEBATEM MUDANÇAS no mercado em caso de aprovação
Caso a proposta de reforma previdenciária seja aprovada na íntegra no Congresso, a maioria dos trabalhadores será obrigada a esticar a vida profissional. A idade mínima para a aposentadoria será 65 anos, sendo necessário se manter no mercado além dessa faixa etária para obter o valor integral do benefício.

O cenário atual dá uma ideia do desafio para o mercado de trabalho. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2015, do Ministério do Trabalho, pessoas com mais de 65 ocupam somente 1% das 48 milhões de vagas com carteira assinada no Brasil, entre celetistas, servidores públicos e temporários.

Para a pesquisadora do Ipea Ana Amélia Camarano, a reforma precisa estar integrada com outros ministérios, como Trabalho e Saúde. Na rota em que está, aposentados não terão lugar no mercado.

– Para algumas atividades, a idade conta a favor, como professores, advogados. Mas para outras, como mineiros e metalúrgicos, ela trabalha contra. Será preciso requalificar esses trabalhadores, ao mesmo tempo em que se promovam melhores condições de saúde – afirma a pesquisadora, uma das organizadoras do livro Política Nacional do Idoso: Velhas e Novas Questões.

Ela entende que o governo precisará oferecer um pacote completo de medidas, incentivando setores com maior potencial de empregar trabalhadores mais velhos.

CAPACIDADE PRODUTIVA É PONTO DE DISCÓRDIA

Coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri prevê idosos sem condições de trabalhar e passando dificuldades. E aqueles que estiverem aptos terão de disputar, em desvantagem, lugar com os jovens:

– Mais vagas de trabalho e idosos aptos para elas não são duas coisas possíveis. Teremos milhões de idosos miseráveis no futuro.

Ela explica que a maioria dos trabalhadores não consegue chegar aos 65 anos aptos para continuar ou tentar um emprego porque as atuais condições não permitem.

Já o vice-presidente e coordenador do Conselho de Relações do Trabalho e Previdência da Fiergs, Paulo Garcia, entende que o futuro será em sintonia com a reforma.

– Os 65 anos anos de hoje equivalem aos 55 anos da década de 70. E, naquela época, o trabalho era muito mais pesado. Há uma evolução natural, hoje se tem uma técnica mais evoluída.

Para ele, o desafio de criar vagas suficientes para jovens e idosos vai depender de crescimento econômico. E uma das variáveis para que isso ocorra seria, justamente, a reforma da Previdência:

– Porque há distorções que têm de ser corrigidas, como gente se aposentando com menos de 50.

Para o economista Thiago Andreis, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o cenário obrigará o trabalhador a criar alternativas para complementar a renda além da aposentadoria. Ele acredita que poucos terão condição de trabalhar e contribuir por muito tempo, devendo se aposentar ganhando menos já aos 65 anos:

– A opção seria formar uma poupança ao longo da vida. Mas o brasileiro já ganha muito pouco.

Em busca de respostas para identificar onde vão estar as oportunidades de trabalho formal para essas pessoas, a reportagem procurou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, que responde pela Previdência Social e recomendou o Ministério do Trabalho para falar sobre o assunto. Somente o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, estaria apto para comentar, segundo a assessoria de comunicação da pasta. Até a noite de ontem, ele não havia se manifestado sobre o assunto.

leandro.rodrigues@diariogaucho.com.br

REFORMA


Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) aposta que a reforma será aprovada no primeiro semestre deste ano. Veja os pontos mais polêmicos:
-Idade mínima: 65 anos para homens e mulheres do setor privado e funcionários públicos.
-Tempo de contribuição: o prazo mínimo seria elevado dos atuais 15 anos para 25 anos.
- Fim da fórmula 85/95: a fórmula atual, que tem previsão para durar até 2026 e reúne idade com tempo de contribuição (são 30 anos para mulheres e 35 para homens), acabará caso a reforma seja aprovada.
- Professores e policiais civis: acaba a aposentadoria especial de professores dos ensinos Fundamental e Médio e policiais civis.
- Aposentadoria integral: a forma de cálculo para se chegar ao valor integral ainda será definida.

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