domingo, 8 de janeiro de 2017

Com medidas ineptas, políticos massacram contribuintes soltos


Alan Marques - 6.jan.2017/Folhapress
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dá entrevista sobre o plano de segurança pública do governo Temer
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dá entrevista sobre o plano de segurança pública

No último domingo (1º), houve o primeiro massacre de presos. Já na segunda-feira (2), começou o massacre dos soltos. O processo de empulhação foi disparado quando o Ministério da Justiça soltou uma nota oficial referindo-se aos "R$ 44,7 milhões de repasse" do Fundo Penitenciário Nacional, recebidos pelo governo do Amazonas no dia 29 de dezembro. 

Não juntaram lé com cré. O dinheiro que chegou no dia 29 nada tem a ver com um massacre ocorrido no dia 1º de janeiro. Ademais, o descontingenciamento desses recursos cumpria uma ordem de agosto, do Supremo Tribunal Federal. 

Dada a senha, o massacre prosseguiu. O governador do Amazonas disse que entre os 56 mortos "não tinha santo". Santo, por lá, só ele. Na quinta-feira (5), numa entrevista, três ministros anunciaram satélites artificiais, sensores, radares, tornozeleiras, mais um milagroso e ainda inacabado Plano Nacional de Segurança. Os ministros têm idade suficiente para saber que só neste século, FHC, Lula e Dilma Rousseff coreografaram o lançamento de três Planos Nacionais de Segurança, todos com esse nome. O truque é velho e beneficia sobretudo quem vende equipamentos. A fantasia de "Star Wars" foi colocada no lugar no dia seguinte, com a matança de Roraima, a quem o governo negara 180 pistolas. 

Os dois massacres chocaram pela proporção, mas neles houve muito de rotina. Roraima já tivera 18 mortos, quatro deles decapitados. Aconteceram degolas nos presídios dos governadores Sérgio Cabral (Rio), Ivo Cassol (Rondônia), Roseana Sarney (Maranhão) e Paulo Hartung (Espírito Santo), onde se guardavam presos em contêineres. 

O doutor Alexandre de Moraes, um ministro encantado com a própria voz, teve dois momentos de fama e remeteu a origem dos males das prisões brasileiras ao período colonial, como se a privataria do Compaj viesse das ordenações manuelinas. 

O contribuinte foi massacrado três vezes. Na primeira, quando um bandido assaltou-o, na segunda quando usaram o dinheiro dos seus impostos para sustentar máquinas privadas e públicas ineptas e na terceira quando ministros foram ao palco para empulhá-lo.

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