Com medidas ineptas, políticos massacram contribuintes soltos
Alan Marques - 6.jan.2017/Folhapress | ||
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dá entrevista sobre o plano de segurança pública |
No último domingo (1º), houve o primeiro massacre
de presos. Já na segunda-feira (2), começou o massacre dos soltos. O
processo de empulhação foi disparado quando o Ministério da Justiça
soltou uma nota oficial referindo-se aos "R$ 44,7 milhões de repasse" do
Fundo Penitenciário Nacional, recebidos pelo governo do Amazonas no dia
29 de dezembro.
Não juntaram lé com cré. O dinheiro que chegou no dia 29 nada tem a ver
com um massacre ocorrido no dia 1º de janeiro. Ademais, o
descontingenciamento desses recursos cumpria uma ordem de agosto, do
Supremo Tribunal Federal.
Dada a senha, o massacre prosseguiu. O governador do Amazonas disse que
entre os 56 mortos "não tinha santo". Santo, por lá, só ele. Na
quinta-feira (5), numa entrevista, três ministros anunciaram satélites
artificiais, sensores, radares, tornozeleiras, mais um milagroso e ainda
inacabado Plano Nacional de Segurança. Os ministros têm idade
suficiente para saber que só neste século, FHC, Lula e Dilma Rousseff
coreografaram o lançamento de três Planos Nacionais de Segurança, todos
com esse nome. O truque é velho e beneficia sobretudo quem vende
equipamentos. A fantasia de "Star Wars" foi colocada no lugar no dia
seguinte, com a matança de Roraima, a quem o governo negara 180 pistolas.
Os dois massacres chocaram pela proporção, mas neles houve muito de
rotina. Roraima já tivera 18 mortos, quatro deles decapitados.
Aconteceram degolas nos presídios dos governadores Sérgio Cabral (Rio),
Ivo Cassol (Rondônia), Roseana Sarney (Maranhão) e Paulo Hartung
(Espírito Santo), onde se guardavam presos em contêineres.
O doutor Alexandre de Moraes, um ministro encantado com a própria voz,
teve dois momentos de fama e remeteu a origem dos males das prisões
brasileiras ao período colonial, como se a privataria do Compaj viesse
das ordenações manuelinas.
O contribuinte foi massacrado três vezes. Na primeira, quando um bandido
assaltou-o, na segunda quando usaram o dinheiro dos seus impostos para
sustentar máquinas privadas e públicas ineptas e na terceira quando
ministros foram ao palco para empulhá-lo.
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