sábado, 14 de janeiro de 2017


14 de janeiro de 2017 | N° 18742 
ANTONIO PRATA

TRUMP E OH! O SEXO



Apior víbora daquele serpentário chamado Família Soprano era Livia, a mãe que tentou matar o próprio filho, Tony. Seu nome deve ter sido uma cândida ironia dos roteiristas, pois Livia quer dizer clara, alva, verdadeira. Outro ser humano péssimo com um nome ótimo, na série, era Uncle Junior. Tio Junior soa cômico como um “Seu Neném”, um velho e uma criança vivendo na mesma pessoa. De criança, porém, Junior só tinha o sadismo, um sadismo de menino rodriguiano, que cega gato e decepa perna de passarinho. A segunda pior pessoa do seriado, definitivamente, era ele.

Tio Junior matava, esfolava, extorquia. Não tava nem aí. Houve um momento, contudo, em que ele tremeu nas bases e sentiu escorrer pelo queixo a baba da vergonha: foi quando uma amante resolveu se gabar, no salão de cabeleireiro do bairro, de que o mafioso lhe dava prazer com sexo oral. Para aquele velho “capo”, cuja moral sexual deve ter sido talhada em algum rincão da Itália, antes da II Guerra, sob influência de gângsteres e Mussolini, fazer sexo oral numa mulher era emascular-se, rebaixar-se abaixo da linha do chão. 

No episódio em questão, a obsessão do criminoso é evitar que a fofoca chegue aos ouvidos de seus comparsas e, principalmente, de seus inimigos. Caso soubessem o que ele fazia entre quatro paredes, perderia toda a moral – e a moral é, como se sabe, ao lado da metralhadora e de um bom balde com cimento fresco, dos principais ativos de um mafioso.

Deu no New York Times, na terça. FBI, CIA e NSA entregaram a Trump, Obama e outros líderes americanos um dossiê comprometedor sobre o presidente eleito. O dossiê, cujo conteúdo não foi comprovado, traz acusações que vão de negócios suspeitos com Moscou a encontros com espiões russos para hackear Hillary Clinton. 

O que saracoteou nas redes sociais como uma bola de pinball, contudo, foi a notícia de que existiriam vídeos em que Donald Trump faz sexo com prostitutas russas, na suíte presidencial do Ritz Carlton de Moscou. Nessas farras, Trump teria recebido “golden showers” das garotas de programa, prática que consiste em ser urinado por alguém.

Pense o que quiser de mim, pudico leitor, carola leitora, mas imaginar Donald Trump, tão orgulhoso do seu poder, da sua macheza, tão cioso do seu arquitopete laqueado, deitado numa cama, nu, provavelmente bêbado, tendo seu “combover” arruinado por uma torrencial chuva dourada disparada por um pelotão de alvas dominatrices da tundra fez com que eu, pela primeira vez, o visse como um ser humano, um frágil, patético e desejante irmão.

“Agora ele cai!”, “Agora ele cai!”, torcem milhões, mundo afora. Seria uma queda triste. Não um passo se afastando dos valores enferrujados que tornaram Trump presidente dos EUA, mas, sim, outra volta no parafuso do conservadorismo. Tá, tá certo que pode haver interesses escusos por trás desse sexo (se é que o sexo existiu), que a chuva dourada pode estar facilitando ou comemorando algum suspeitíssimo ouro de Moscou. 

Mas vocês acham que é com os russos que a geral tá preocupada? A mesma opinião pública que elegeu Donald Trump pode em breve derrubá-lo, pois mais grave que racismo, machismo, xenofobia, pior que o ódio de qualquer espécie, pior que as ameaças de muros, deportações em massa e bombas nucleares, já 17 anos adentro do terceiro milênio, ainda é – oh! – o sexo.

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