Não estávamos listos
Decididamente
não estávamos listos (prontos, em espanhol) para o fechamento da cafeteria,
bistrô, padaria, mercado, restaurante e happy-hour Listo, na Padre Chagas, 217,
onde funcionava há apenas 16 anos. E agora, onde vamos comprar pão, manteiga e
leite domingo de noite? Para onde será que foi a Elaine, a bonita e simpática
moça do caixa? O Jefferson, maior barista do pedaço, já tinha ido lá para o
café da Félix da Cunha há um bom tempo.
Os
guris do cafezinho da tarde - Difini, Coufals, Mariante, Paulinho, Falceta,
Caio, Cadu e outros -, estão no outro lado da Padre, no Bella Gula, mas já com
saudades do Listo. E quem já não está com saudade do Listo? Mesmo com alguns
probleminhas que tinha, que prefiro não relacionar agora, todos nós estávamos
acostumados a ir lá como se fosse a extensão de nossa sala de estar.
Quem
queria mais privacidade, menos agito e contemplar o desfile das lindinhas,
gatinhas, gatões e gatinhos da Padre de cima, ficava na área VIP, no deck,
tomava seu café e curtia a eterna passagem do tempo, vendo também os senhores e
as senhoras que caminham suas vidas, quase sempre longas, pelo Moinhos.
Camarote ideal. Se foi. Que venha outro.
O
Listo e seus frequentadores me renderam muitas crônicas para o Jornal do
Comércio. Uma delas, envolvendo uma parlamentar jubilada, senhora de mais de
setenta que, elegante, solitária, tomava seu café num final de domingo e
refletia, certamente, sobre família, vida, poder, tempo, dinheiro, serenidade e
saúde. Até hoje lembro da expressão de seus olhos.
As
intermináveis discussões sobre futebol, mulheres, religião, política, pessoas,
sociedade, famílias e nomes tradicionais e assuntos do dia estavam sempre nas
mesas do Listo, junto com o cafezinho da manhã, da tarde ou da noite. Aliás,
durante um certo tempo, o Listo ofereceu ao Telmo Freire, nosso vernissólogo,
colunista do jornal Terceira Margem e imbatível frequentador de coquetéis, um
café e um sanduíche gratuitos por noite. Telmo hoje vive numa clínica, onde
pode ser visitado.
Negócios
imobiliários, namoros, amizades, encontros “casuais”, cobranças de dívidas e
promessas, muita coisa rolou no Listo, onde, aliás, lá pelas seis e meia, sete
da manhã, a turma do Gastão Wallauer, trabalhadores do Brasil, tomava seu café
da manhã, antes do batente.
Fico
lembrando, escrevendo estas linhas sobre o Listo, da padaria que existiu na
Padre Chagas, onde faziam aquele pãozinho de cachorro-quente que ficou famoso
por décadas e onde me lembro que comia, no balcão, sanduíche de pão ainda
quentinho com manteiga e mortadela recém fatiada, acompanhado de taça de café
com leite. Essas coisas, a gente não esquece.
A
propósito...
O
Listo só vai desaparecer quando ninguém mais falar ou lembrar dele. Daqui a
algumas décadas, quem sabe. Falando nisso, Difini, onde está a Maricota, aquela
garçonete baixinha, linda, que nos servia com tanto carinho? Manda notícias.
Não esconde o jogo. O Listo veio da Ramiro Barcelos, onde iniciou com conceito
de ser rápido, expresso, preparado para atender a várias solicitações dos
clientes. Pois é, não estávamos listos para sua parada, assim, sem aviso. Vamos
te guardar na lembrança. Vamos recordar, com carinho, dos melhores momentos e
esquecer algumas coisas. Normal, não é? Tudo como se fosse da família. E não
era?
Jaime
Cimenti
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