sexta-feira, 5 de junho de 2015

Boicote a O Boticário revela incoerência dos fundamentalistas

15 mil90166
Ouvir o texto
03/06/2015 - 16h36
PUBLICIDADE
Em termos estritamente criativos, o comercial para o Dia dos Namorados de O Boticário não tem nada de mais. Três homens e três mulheres aparecem se arrumando e carregando presentes. Não há trama, não há diálogos.
Mas há uma surpresinha no final. Só uma das mulheres se encontra com um dos homens. Os demais formam dois casais do mesmo sexo: dois homens e duas mulheres. Sem beijos, mas com abraços e olhares apaixonados.
Foi o bastante para incomodar os fundamentalistas religiosos (acho injusto chamá-los de evangélicos, pois existem muito evangélicos que são exemplos de tolerância). As reclamações nas redes sociais logo geraram uma campanha pregando o "dislike" na página do comercial no YouTube.

Os gays e os simpatizantes da causa LGBT reagiram, e se instaurou uma disputa digna da quinta série. Como se o número de "likes" ou "dislikes" de uma propaganda fosse interferir nos rumos da nação. No momento em que escrevo, os "likes" estão ganhando por uma larga margem —mas claro que o verdadeiro vencedor é a própria marca, que nunca teve tanta mídia de graça.

Mais contundente foi o boicote proposto por algumas lideranças fundamentalistas. Sentindo-se empoderados desde que a novela "Babilônia" (Globo) alterou algumas de suas tramas depois da rejeição pelo público, agora eles acham que vão melar a campanha publicitária de maior repercussão do ano.

Ou talvez estejam apenas querendo pegar carona nos holofotes. Como costuma ser o caso de Silas Malafaia, que não perde uma oportunidade para vociferar contra os supostos inimigos da família tradicional.

Casal gay na propaganda de 'O Boticário
Casal gay na propaganda de 'O Boticário'
Como bem apontou o jornalista James Cimino num artigo para o "UOL Economia", quem quiser boicotar empresas que apoiam os gays deveria ser coerente e encerrar sua conta no Facebook. Também deveria parar de usar computadores da Apple, nunca mais beber Coca-Cola e não voar mais pela Gol, que produziu um comercial com um casal gay masculino e seu filho adotivo para o último Dia das Mães.
Este filme foi veiculado apenas na internet. O Boticário merece ainda mais aplausos por ter levado seu anúncio para a TV aberta e programas de grande audiência. Saiu na chuva para se molhar, e pelo jeito está adorando essa chuvarada toda.
Agora o comercial "Toda Forma de Amor" será analisado pelo Conar, que recebeu cerca de 30 reclamações. Dificilmente receberá qualquer tipo de moção negativa. O Conar preocupa-se basicamente com propaganda enganosa, e não há nada de ofensivo ou impróprio no filme de O Boticário.
De qualquer forma, o Conar só dará sua decisão em julho, quando o filme já tiver saído do ar. Até que não é um grande atraso, considerando que quem reclamou ainda está na Idade Média.

Nenhum comentário: