06 de fevereiro de 2014 | N°
17696
PAULO SANT’ANA
A greve do lazer
O noticiário de ontem foi
taxativo: a principal reivindicação dos grevistas nem é tanto por salário
maior, é a de só trabalhar seis horas por dia. Eles atualmente trabalham só
sete horas e 10 minutos por dia.
Ou seja, os grevistas querem
trabalhar o mesmo número de horas que trabalham os PMs há décadas: seis horas
por dia.
Pode-se dizer, assim, que não é
tanto uma greve salarial, é uma greve por lazer.
Os taxistas, irmãos gêmeos dos
rodoviários, pelo menos na tarefa única que eles têm de transportar
passageiros, querem trabalhar metade das horas que muitos taxistas trabalham.
Estou dizendo que inúmeros taxistas de Porto Alegre trabalham 12 horas por dia.
Claro que tem uma diferença, a
maioria dos taxistas de Porto Alegre, ou melhor, a totalidade, trabalha por
comissão, ganha 20% do que ganham os proprietários de táxis, estes últimos é
que pagam os combustíveis e outras despesas.
E os empregados em ônibus, ou
seja, os motoristas e os cobradores, transformaram agora, em meio à greve, meio
que de surpresa, a sua principal reivindicação em trabalhar só seis horas por
dia.
É o que chamo graciosamente de
greve por lazer.
Não tenho nada contra o fato de
que os grevistas queiram trabalhar menos horas por dia.
Eu tenho, sim, que dar atenção ao
1 milhão de passageiros da agonia em Porto Alegre, que vão hoje para 11 dias
sem nenhum ônibus. Nem sequer um ônibus transportando os passageiros da agonia.
Como ser a favor ou simpático a
essa greve infame?
E os grevistas querem ver
atendidos seus direitos. Quando suspenderam, criminosamente, os 30% da frota
que tinham de permanecer operando durante a greve, como manda a lei que eles
desacataram, não a cumprem e pouco estão ligando para as autoridades.
Estão se lixando para as
autoridades, estão se lixando como se viu bem claramente para a Justiça do
Trabalho e estão se lixando finalmente para o 1 milhão de passageiros da
agonia, os passageiros que eles juraram um dia defender e servir.
Já vão para 11 dias de greve e
nada se fez até agora contra essa parede atentatória aos direitos dos
passageiros.
São 11 dias de agonia na greve
mais desigual da história de Porto Alegre. Desigual porque deixa transparecer
que só têm direitos os grevistas, o 1 milhão de passageiros, segundo os
grevistas, não têm direito nenhum.
Eu sou trabalhador, tenho
carteira assinada por meu empregador há 43 anos.
Mas os grevistas desses ônibus
não me dão direito de defendê-los por essa greve agressiva e destemperada que
exercitaram.
Como trabalhador, eu tinha o
dever de apoiá-los, até mesmo porque sua greve é justa.
Mas eles me tiraram o dever de
apoiá-los quando passaram por cima da exigência legal de manter 30% da frota
funcionando.
Quando tomaram essa patife
decisão, me bandearam para o outro lado, o lado do povo, o lado dos passageiros
da agonia.
Entendem-me agora?
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