03 de fevereiro de 2014
| N° 17693
PAULO SANT’ANA
Terra de ninguém
Só o que faltava era eu ser uma
pessoa insensível que não entende ser justa a greve nos ônibus. Só o que
faltava era eu não me sensibilizar com o fato de que os motoristas de POA
ganham R$ 1.800 mensais e os cobradores cerca de R$ 1.200.
Evidentemente que considero
insuficientes esses salários e eles têm de ganhar mais, pelo que compreendo a
greve nesse sentido.
Mas é que eu sou racional e
cerebrino e portanto sei, o que devem entender também os grevistas, que eles
trabalham num serviço essencial do metabolismo social e que são, por isso,
obrigados a obedecer aos ditames das leis, que ordenam que nunca seja total uma
paralisação nos ônibus, que devem manter pelo menos 30% da frota em atividade
durante a greve e jamais abandonar a população de passageiros, que totalizam 1
milhão de almas, no desamparo de zero por cento da frota em atividade, como
acontece agora.
Deixar assim a cidade sem nenhum
ônibus é um crime inominável que cometem os grevistas.
E os grevistas se fizeram
representar perante a Justiça do Trabalho, onde assinaram um termo prometendo
50% da frota funcionando e logo em seguida 100% da frota em funcionamento,
durante 12 dias que seriam destinados às negociações.
Não cumpriram nada, nada. E mais:
fingiram que destituíram os seus representantes naquela reunião na Justiça do
Trabalho para simular que os desautorizavam com a finalidade de manter todos os
ônibus parados. Uma chantagem que tinha de ser tratada pela polícia e não pelo
órgão judiciário trabalhista.
Pois bem, estamos assim: 1 milhão
de passageiros que dependem dos ônibus para trabalhar, para sobreviver, estão
sem um ônibus sequer para seu transporte.
Isso é crível? Tudo isso é feito
às claras, nos olhos das nossas maiores autoridades, sem nenhuma providência. O
que quer dizer que voltamos à época das cavernas em pleno século 21.
A Justiça ordena que parte dos
ônibus saia das garagens e os piquetes grevistas os impedem disso. E a polícia
assiste de mãos cruzadas a esse acinte, a essa perturbação da ordem que a
Secretaria da Segurança tinha o dever de impedir.
Ou seja, tem gente querendo trabalhar
e há desordeiros que não deixam. E a Segurança cruza os braços. Vivemos o fim
dos tempos.
Um milhão de passageiros que se
tornaram reféns do ajuntamento que lidera a greve vão esperar pacientemente que
esses desordeiros, senhores da razão, decidam quando é que vão retornar ao
trabalho. Um milhão de reféns de meia dúzia de baderneiros.
Porto Alegre virou uma terra de
ninguém.
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