02 de fevereiro de 2014 | N° 17692
PAULO SANT’ANA
Se eu
fosse juiz...
Eu conversava ontem com um amigo e colega que tem 84 anos de
idade, exatamente 10 anos mais do que eu.
E contávamos episódios nossos idos e vividos, quando surgiu
um impasse: ele me disse que sabia mais do que eu sobre alguns assuntos.
Quando eu disse a ele que ficasse definitivamente resolvido
que ele conhecia tudo mais do que, mas eu sabia tudo mais do que ele, sutil mas
importante diferença.
Conheço homens sábios que, no entanto, são verdes.
Também conheço homens burros que, no entanto, são
extremamente maduros.
Também conheço homens jovens de grande experiência. E
convivem com eles velhos inexperientes.
Por exemplo, se eu tivesse que ser julgado por um juiz,
preferiria mil vez que ele fosse humano do que fosse culto.
E o maior e incomparável juiz seria aquele que reunisse a
cultura e a inteligência. E maior ainda do que este seria aquele juiz que além
de culto e inteligente fosse justo.
Eu não gostaria de ser julgado, por exemplo, por um juiz que
tivesse pressa.
E gostaria de ser julgado por um juiz que um dia foi
profundamente injustiçado.
Eu não precisaria que o juiz que me julgasse fosse piedoso,
melhor seria que fosse magnânimo.
Se eu fosse juiz, seria ao mesmo tempo severo e
condescendente.
Se eu fosse juiz, ouviria meus réus com paciência e
perseverança de Jó.
E, se fosse juiz, jamais condenaria um réu que se mostrasse
sinceramente arrependido de seu ato.-
Se eu fosse julgado sobre um crime de morte, pouco ligaria
que o promotor que me acusasse fosse enérgico e eloquente, desde que os jurados
que me fossem julgar fossem lacônicos e benevolentes.
Se eu fosse juiz, ouviria com percuciência todas as
testemunhas e não mostraria enfado com nenhuma delas, mesmo com as mais
maçantes.
Se eu fosse juiz, só pronunciaria sentença condenatória
quando tivesse, mais do que certeza, convicção de que dela jamais me
arrependeria.
Se eu fosse juiz, a sentença que mais me orgulharia seria
aquela em que depois de condenar o réu este viesse me dizer, em processo
polêmico, que fui justo.
Se eu fosse juiz, levaria em conta para desferir a sentença
o passado do réu, mas muito mais o futuro do réu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário