03
de dezembro de 2013 | N° 17633
DAVID
COIMBRA
O sorriso da menina
Amenina
teria uns 12 anos de idade. Talvez menos. Viria do colégio, que tinha uma
mochila de corcova. Era magrinha, o rosto de traços desenhados a bico de pena,
os olhos redondos de corça, os dentes muito brancos, a pele preta de um preto
imaculado, um preto perfeito. E prendia o cabelo em duas tranças que lhe roçavam
as alças da mochila.
Vinha
de uma esquina, eu de outra. Percebi que, lá de longe, ela fixou o olhar em mim.
Caminhava com desenvoltura e olhava para mim. Olhei-a, também. Fiquei curioso
com o interesse dela. Estávamos a uns 10 metros um do outro, quando ela começou
a sorrir. Foi um sorriso que se abriu devagarinho. Primeiro ela sorriu com os
olhos, só a luz do sorriso fazendo-lhe brilhar o rosto bonito. Depois, os
cantos da boca foram se erguendo lentamente.
Eu
caminhava e olhava para aquele sorriso em construção, ela caminhava e, enquanto
isso, não parava de construí-lo. Assim fomos nos aproximando. Oito metros, seis
metros, quatro. Estávamos bem próximos, bem próximos, e o sorriso dela era um
sol e não havia malícia naquele sorriso, era um sorriso que era só isso mesmo,
um sorriso de alegria, e eu sorria também e, a um passo de distância, parei.
Ela
parou. Olhei para baixo, para o belo rosto sorridente da menina. Ela olhou para
cima, para os meus olhos. Cheguei a abrir a boca para perguntar algo. Mas
perguntar o quê? Hesitei por um segundo, a boca ainda entreaberta, um pedaço de
verbo preso entre os dentes. E então ela cantarolou:
– Hoje
eu só quero que o seu dia termine bem...
Dito
isso, seguiu caminho e levou o sorriso com ela, a mochila balançando nas
omoplatas. Observei-a ainda por dois ou três segundos. Queria dizer algo. Não
disse. Segui também o meu caminho, pensando naquele sorriso. E deu certo. Ela
conseguiu. O meu dia terminou bem.
É fácil
ser feliz quando se espera pouco da vida, não é? Um ponto para o Grêmio, um
ponto para o Inter, um sorriso para mim, e estamos todos resolvidos.
Bom
Senso no bolso
Bonito
o movimento Bom Senso dos jogadores de futebol. Querem menos partidas, rodadas
que não passem das 10 da noite, o saneamento financeiro dos clubes e tudo mais.
Mas
eles se esqueceram de uma chaga do futebol brasileiro: os salários absurdos dos
técnicos e dos jogadores. Alguns daqueles protestantes que se sentam na grama
de braços cruzados ganham R$ 600 mil, 700 mil, 800 mil, 900 mil por mês. Não há
como o futebol brasileiro se sustentar, pagando essas fortunas a cada dia 5. Que
seja incluída uma pauta nas justas reivindicações: salários de, no máximo, R$ 200
mil. E sem pagamento por direito de imagem, que, tecnicamente, é o “por fora”. Tenho
certeza de que os jogadores aceitarão se sacrificar um pouco em nome do Bom
Senso.
Técnicos
Renato
é o segundo colocado no Campeonato Brasileiro, o Grêmio está classificado para
a Libertadores, e ele é criticado todos os dias, a maioria não quer sua renovação,
chamam-no de mau técnico.
Dunga
foi demitido, teve 46% de aproveitamento e é considerado o salvador do Inter.
Vá entender.
Nenhum comentário:
Postar um comentário