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sábado, 4 de fevereiro de 2012
04 de fevereiro de 2012 | N° 16969
PAULO SANT’ANA
A hora da guilhotina
Deus foi magnânimo comigo: nunca me deu função na minha vida profissional em que eu tivesse de demitir alguém do serviço.
Não pode ter algo mais pessoalmente torturante do que ter de demitir alguém.
Eu não teria coragem de pedir que passasse à minha sala uma pessoa para comunicar-lhe que estava demitida.
Se por acaso, algum dia, nos lugares em que trabalhei, eu desconfiasse de que queriam demitir-me, me anteciparia, chamaria o gerente ou diretor e lhe diria o seguinte: “Sinto no ar que não tenho mais lugar nesta empresa, por isso estou pedindo demissão. Arranjem um jeito de me dar fundo de garantia com multa de 40% e estou dirigindo minha vida para novos rumos”.
Pouparia assim outra pessoa do sofrimento atroz de demitir-me. Não é justo nem humano isso.
Pior é que há pessoas justas, humanas, equilibradas, que exercem funções entre cujos misteres está demitir alguém. E, como não podem se recusar a isso, sofrem como se tivessem que surrar um filho.
Eu conheço um diretor que foi encarregado de demitir um funcionário. O homem demorou três dias refletindo, sem dormir, até que tomou uma decisão: ele próprio demitiu-se.
Foram, afinal, demitidos os dois, mas o diretor não teve coragem de baixar o cutelo.
Conheci também outro caso, muito mais intrigante: um homem foi escolhido para ser diretor de uma empresa.
Ficou honrado e foi falar com o presidente da empresa: “Só tem uma coisa, senhor presidente, eu sou homem que só sei admitir funcionários, não sei demitir. Portanto, se eu tiver de demitir alguém, recuso a honra de ser nomeado agora diretor”.
Foi recusado, não assumiu a função. Porque é inerente à função de gestão de uma empresa ter de demitir pessoas, é indeclinável por vezes ter de demitir pessoas.
Não há como fugir disso, embora o diretor aquele que citei lá em cima tenha achado menos difícil demitir a si próprio do que que demitir outra pessoa.
Sei de um caso em que um gerente chamou um funcionário para demiti-lo.
A conversa entre os dois foi tão dramática e tão humana, que ao fim do encontro os dois apertaram-se as mãos e prorromperam num pranto que pôde ser visto e ouvido pelas pessoas que trabalhavam nas salas ao lado.
Demitir é terrível, muitas vezes é pior do que ser demitido.
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