Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
04 de fevereiro de 2012 | N° 16969
DAVID COIMBRA
Como acabar com os acidentes de trânsito
Os bretões, circunspectos no clima e na geografia e, por consequência, na alma, resistem historicamente a mudanças. Não por acaso, ainda se orgulham da sua monarquia de quase um milênio de idade e dos seus pounds irredutíveis ao Mercado Comum Europeu. No século 19, no auge da Revolução Industrial , eles, que sempre olham para as novidades com desconfiança, olharam com desconfiança para o automóvel movido a gasolina. Acharam aquilo muito perigoso.
Aprovaram a chamada “Lei da Bandeira Vermelha”, que só permitia a circulação de um carro se fosse precedido por um homem que, 60 metros adiante, tremulasse uma bandeira vermelha de dia e balançasse uma lanterna à noite.
Para não correr o menor risco de não ser visto pelos pedestres, o homem tinha de, ao mesmo tempo, soprar uma corneta. Mais: a velocidade do automóvel era limitada a 6,4 quilômetros por hora, que, segundo os ingleses, era o máximo que o cara da bandeira vermelha seria capaz de alcançar. Os ingleses só foram abolir essa lei quando já pisavam nos portões do século 20, um tempo que, você sabe, se moveria sobre pneus.
Essa lei britânica, hoje, é o sonho de quem acredita que as pessoas se amarão mais se andarem de bicicleta. De fato, ninguém haveria de acusar o legislador de não tentar preservar a vida humana. Se a Lei da Bandeira Vermelha continuasse em vigência, as estatísticas de acidentes de trânsito cairiam e, de quebra, haveria outra profissão: a do sujeito que carregava a bandeira e soprava a corneta.
Quer dizer: a Lei da Bandeira Vermelha só trazia benefícios. Assim como só trazia benefícios a Lei Seca dos Estados Unidos dos anos 30. E outras leis restritivas do comportamento humano.
Mas o ser humano tem a teimosa tendência de buscar o prazer e o conforto, a despeito da lei. É por isso que certas imposições são burladas. A cerveja foi proibida nos estádios, mas o torcedor continua bebendo. Bebe um pouco antes, bebe logo depois, ou bebe durante, iludindo a vigilância. Com a Copa do Mundo, a cerveja voltará por um mês.
É uma desmoralização da lei. Afinal, se para o legislador a cerveja é tão nociva, como pode receber perdão, ainda que temporário? Por um mês a cerveja não fará mal? Justamente no mês da Copa? Às vezes, não basta a boa intenção para tornar a lei boa.
O bem da saída
A saída de Douglas não é suficiente para devolver ao Grêmio a personalidade que o Grêmio perdeu com a saída de Jonas, mas sem a saída de Douglas o Grêmio não reencontraria a sua personalidade.
As diferenças dos 10
Douglas talvez seja mais habilidoso do que D’Alessandro. Douglas foi dotado com a técnica em estado puro, é algo que nasceu com ele, que recebeu por herança genética. Só que D’Alessandro é muito melhor do que Douglas.
D’Alessandro não se contentou com o que a Natureza lhe deu. D’Alessandro aprendeu e aumentou seu patrimônio futebolístico com a inteligência.
Nem Douglas nem D’Alessandro marcam. Não é isso que se exige de um meia com as características deles. Mas D’Alessandro desce até as sombras da intermediária defensiva para receber a bola e, ao recebê-la, seja de um erro do adversário, seja de um passe lateral do volante amigo, ele a retém, gira sobre o próprio corpo, uma piorra fixa no pé direito, e ele descobre o espaço e ele toca e se adianta e recebe mais à frente e toca de novo e de novo se desloca. Com D’Alessandro, o time evolui.
D’Alessandro pouco desarma o inimigo, é verdade, mas ele está sempre fechando um corredor. A bola não passa por ali porque D’Alessandro está ali.
D’Alessandro é um protagonista; Douglas, um coadjuvante. Essa a diferença básica entre eles. Douglas, quando foi bem no Grêmio, tinha um Jonas a centralizar o jogo. Jonas saía da área, entrava na área, caía para a esquerda e para a direita, recuava à linha divisória, gritava e comandava.
E concluía.
Jonas é um protagonista. Jonas fazia com que Clementino e André Lima jogassem. E Douglas também. Jonas seria craque, se tivesse a habilidade de Douglas. D’Alessandro seria craque, se tivesse a qualidade do arremate fino de um Zico, de um Maradona, de um Messi, de um Rivelino. Não sendo craque, basta ao Inter que D’Alessandro seja fundamental. E D’Alessandro é.
Um Capitu
Quando Douglas se transformou em personagem principal do time do Grêmio, o time do Grêmio faliu. Não por culpa de Douglas, porque quem tem Douglas tem de saber quem é Douglas.
Douglas, aparafusado no centro da máquina, sempre será uma peça imóvel, quase inútil. Ele está lá, parado, enquanto as coisas acontecem alhures. Deixou uma porta aberta e alguém terá de fechá-la.
Sendo ele, e não um Jonas, a liderança técnica, o time se contamina por sua pachorra, por seu toque de dedo e meio, por seus olhos de ressaca. Douglas é um Capitu.
Não por causa de Douglas, mas por causa do lugar em que puseram Douglas, o Grêmio perdeu a personalidade. Tornou-se um time sem alma e sem saber o que quer da vida. Um time tem que saber o que quer da vida, assim como qualquer pessoa tem que saber o que quer da vida.
Não existe uma única forma de viver, nem uma única forma de jogar uma partida de futebol, mas é preciso saber de que forma se quer viver e de que forma se quer jogar uma partida de futebol.
A primeira infância
Comecei a desenvolver uma tese sobre o Gre-Nal no Sala de Redação de sexta, mas tratava-se de um raciocínio um pouco mais alentado, então, claro, não deu para ir adiante, não haveria mesmo tempo. Agora há espaço. Assim, aí vai: o Inter, historicamente, demonstra mais interesse do que o Grêmio em ganhar o clássico. É um traço que vem da origem dos dois clubes. O primeiro Gre-Nal foi o jogo formador da personalidade colorada.
Ao levar 10 a 0 do Grêmio, os colorados pioneiros definiram como principal objetivo do clube superar o rival. O Inter precisou de seis anos para vencer um Gre-Nal. Enquanto isso, os gremistas se mantinham numa postura olímpica, superior, quase indiferente.
Essa atitude prosseguiu anos a fio e só foi mudar quando o Inter passou a bater sistematicamente o Grêmio, lá nos anos 40, com o Rolo Compressor. Mas a transformação profunda só foi desencadeada nos anos 50.
Hoje, é evidente, Grêmio e Inter são clubes muito parecidos, da mesma grandeza, com torcedores em todos os estamentos da sociedade. Mas, como Freud já ensinou, a marca da primeira infância é a marca mais profunda.
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