quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012



01 de fevereiro de 2012 | N° 16966
EDITORIAIS


TRANSPARÊNCIA MÁXIMA

O governo exonerou no último final de semana o presidente da Casa da Moeda, suspeito de receber propina de fornecedores do órgão por meio de duas empresas no Exterior, uma registrada em seu próprio nome e outra em nome da filha. Luiz Felipe Denucci Martins deixou o cargo cumprindo o mesmo ritual que já derrubou seis ministros e vários ocupantes de funções no primeiro escalão – foi orientado pelo Planalto a pedir para sair.

Na sequência de seu afastamento, é aguardada como irreversível, tão logo a presidente retorne da viagem a Cuba, a demissão do ministro das Cidades, Mário Negromonte, igualmente envolvido em irregularidades. Será o sétimo ministro a cair por indícios de participação ou de omissão diante de atos delituosos.

Embora o rótulo de faxina ética tenha sido rejeitado pela senhora Dilma Rousseff, a verdade é que o seu governo tem mostrado pouca tolerância com a corrupção, a incompetência e as suspeitas não esclarecidas.

Esse episódio do presidente da Casa da Moeda é absurdo e revoltante, pela função que o servidor desempenhava. O encarregado de cuidar da produção de dinheiro envolve-se em suspeitas de conluio com fornecedores, dos quais recebia presentes milionários.

Apesar do esforço do governo em afastar os servidores, também a exoneração de Martins só ocorreu depois da intervenção da imprensa. O Ministério da Fazenda, ao qual o acusado era subordinado, ficou sabendo que o jornal Folha de S. Paulo tinha as informações sobre as atividades ilícitas do presidente da Casa da Moeda e que iria publicá-las. Mandou-o embora antes da publicação.

O país aplaude a rigidez presidencial com ministros e servidores envolvidos em malfeitorias, mas espera que o governo se antecipe às denúncias da imprensa. Martins se enquadra no perfil médio dos altos funcionários exonerados desde o início do governo. Era ligado ao PTB e chegou ao cargo na partilha ocorrida no início da gestão, em boa parte pela herança de conchavos do governo anterior.

Poucos sabiam de suas virtudes para estar no posto, mas já se sabe que o antigo aliado pode ter sido derrubado pelos próprios colegas de agremiação, insatisfeitos com o fato de que vinha se afastando dos padrinhos. É nesse labirinto de interesses muitas vezes contrariados que prosperam os delitos e aí é que o governo deve agir antes dos jornalistas.

Até agora, o Planalto já se desfez de seis ministros por suspeitas de irregularidades. É difícil até de listar, de memória, tantos afastados – Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte) e Carlos Lupi (Trabalho), sem contar as dezenas de servidores a eles ligados que também tombaram.

O que ainda se espera, em nome da transparência demonstrada pela Presidência da República, é que o afastamento não seja a única punição. Todos os casos devem ser submetidos a sindicâncias administrativas, para que se esclareçam as circunstâncias e os envolvidos em cada episódio.

A polícia, o Ministério Público e a Justiça também têm a responsabilidade de levar adiante, sem muita demora, investigações, inquéritos e processos, ou a faxina terá sido parcial.

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