sábado, 10 de dezembro de 2011



10 de dezembro de 2011 | N° 16913
NILSON SOUZA


Marias

O Brasil tem mais de 13 milhões de Marias, segundo recente pesquisa que apontou os 50 nomes mais populares do país. Lá em casa tem uma, que não gosta muito de ser chamada pelo primeiro nome – e, por uma dessas inexplicáveis contradições dos casais que compartilham o mesmo teto, é exatamente o que mais me apetece chamá-la.

Maria é um nome suave, que desliza pelas cordas vocais e ganha dimensões oceânicas. Tem sonoridade. É uma sinfonia de cinco letras. Quem, com alguma rodagem na vida, nunca cantou baixinho aquele antológico verso de Ary Barroso? “Maria, o teu nome principia, na palma da minha mão...”

É um nome agradável, solito ou acompanhado. Ele se encaixa bem, antes e depois de qualquer outro. Até mesmo alguns nomes masculinos adquirem certa suavidade com a conjugação. Lembro, por exemplo, de um ex-goleiro do Internacional chamado Ademir Maria, cuja originalidade se constituía em prato cheio para os locutores esportivos em meio à fauna de apelidos viris do futebol.

Mas é no gênero feminino/feminino que Maria mais encanta. Conjuga-se com Anas, Floras, Madalenas, Ritas e Claras, além de uma infinidade de outros nomes igualmente bonitos. Também estas combinações me lembram uma música de Roberto Carlos, bela e triste, mas simbólica para evidenciar a singularidade do nome: “E não lhe chamaram/ assim como tantas/ Marias de santas/ Marias de flor./ Seria Maria/ Maria somente/ Maria semente/ de samba e de amor”.

Somente Maria já é mais raro, mas é suficiente. Maria é um nome imenso, não apenas pela conotação religiosa, mas também pelo significado. De acordo com os dicionários especializados, significa “mulher que ocupa o primeiro lugar”. Mariam, em hebraico, também significa “mares”, o que dá bem ideia da sua dimensão.

É um nome que gera nomes. Maria é nome de santa, de planta, de chá, de pássaro, de penteado, de refeição, de trem, de inseto, de peixe, de brincadeira infantil, de doce e também de estrela. As Três Marias, por capricho dos astrônomos, respondem individualmente por outros nomes, mas são conhecidas popularmente pelo genérico coletivo.

Na verdade, todas as Marias são estrelas. São tantas as Marias, que alguém pode alegar falta de originalidade na escolha do nome. É um equívoco. Nenhuma Maria é igual à outra. Todas são especiais.

Espero que a minha Maria, que, como no verso, tem olhos claros cor do dia, leia este texto para ter certeza de que também ela é única entre mais de 13 milhões.

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