quarta-feira, 7 de dezembro de 2011



07 de dezembro de 2011 | N° 16910
PAULO SANT’ANA


Chatice precisa de tempo

Nem todo chato é aposentado, mas é muito grande a existência de chatos entre os aposentados.

O aposentado tem todo o apetrecho para ser chato, ele tem tempo para chatear os outros, não frequenta nenhum expediente, não tem nada para fazer o dia inteiro. Mesmo que não queira, irá fatalmente chatear os outros.

Para não ficar chateando sempre a mulher e os filhos, muito aposentado sai para as ruas.

No perímetro existente entre a Rua Riachuelo e a Avenida Mauá, com limite nas Ruas Caldas Júnior e Dr. Flores, centro de Porto Alegre, ressalta a área preferencial dos chatos em Porto Alegre.

Eles saem às legiões e atacam suas vítimas nessa região. É tão grande a incidência de chatos nesse perímetro, que, não raro, verifica-se no local o embate de chato contra chato, um confronto direto lamentável, um desgaste no seio da classe dos chatos, uma antropofagia.

Esta época que estamos vivendo, início de dezembro, é propícia para os chatos.

Na estratégia dos chatos, existe uma preciosidade: é essencial a abordagem do chato sobre suas vítimas, o momento em que ele se dirige aos chateados e tenta estabelecer uma conversa.

A tática preferencial dos chatos nessa época consiste em dizer à provável vítima: “Feliz Natal!”.

Não há quem resista a esse cumprimento e fique calado. Ao responder ao cumprimento do chato, a vítima será fatalmente envolvida por ele.

Estabelecida a conversa, delineia-se a atmosfera ideal para os chatos, sua ação predatória passa a ser exercida com extrema crueldade.

O chato interrompe o trajeto da vítima, que tenta desesperadamente se desvencilhar dele. E o chato se mostra então desapiedado e continua a chatear intensamente.

Ontem, no Gambrinus, ao lado da Banca 40, dos sorvetes, no Mercado Público, local paradisíaco para os chatos, um deles me abordou e me perguntou: “Qual é mesmo o endereço do cachorro-quente que tens preferido e indicaste na tua coluna de hoje?”.

Eu respondi atenciosamente que era Avenida Getúlio Vargas, esquina da Rua Barão de Gravataí. O chato continuou a conversa sobre cachorro-quente e dali a quatro minutos, uma eternidade, acrescentou: “Poxa, já me esqueci novamente do endereço, podes me repetir?”.

É dose para elefante.

Mas o elemento essencial na conduta de qualquer chato é ser inequivocamente repetitivo.

Chato que não se repete não é chato.

A ontogênese do chato consistiu essencialmente em aparelhar-se para a insistência repetitiva.

Recebo e transcrevo: “Como tu sabes, sou leitor da tua coluna, assim como 100% dos gaúchos. E ontem deparei com uma coluna sobre cachorro-quente, em que dizes que Porto Alegre nunca teve um excelente. Não posso discordar nem concordar, gosto não se discute.

Mas quero te observar que Porto Alegre tem o Totosinho, que além de ser um cachorro-quente tradicional, daqueles que só se come com mostarda e/ou catchup, vem com o conceito de festa e alegria ‘dentro’. O porto-alegrense pode gabar-se de que o Totosinho é o nosso cachorro-quente. Abraço, do amigo Maurício Sirotsky Neto”.

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