quinta-feira, 1 de dezembro de 2011



01 de dezembro de 2011 | N° 16904
CLAUDIA TAJES


Tinha um porco no meio do caminho

Agora mesmo, em algum sinal de trânsito, alguém ganha a vida fantasiado de cachorro, porquinho, cavaleiro andante, guarda da rainha e o que mais a imaginação dos publicitários mandar.

Sempre em busca da criatividade, a propaganda tenta diferenciar as dezenas de empreendimentos imobiliários, carros em promoção e outras oportunidades imperdíveis de todos os dias com distribuidores de folhetos temáticos. No caso, temáticos são os distribuidores, não os folhetos.

Basta sair de casa para encontrar garotas vestidas de operárias da construção civil, capacete amarelo e macacão, andando entre os carros com um sorriso cansado e um folheto para enfiar pela frestinha do vidro:

– Construa uma nova vida. Residencial La Maison.

Mais alguns metros, é possível ver homens e mulheres fantasiados de monstros. Estão lá o Frankenstein, o conde Drácula, múmias, caveiras, fantasmas e, quem sabe, a própria morte, vendendo uma promoção do outro mundo. As opções de fantasia, nesse tipo de propaganda, dependem do tema do folheto: mergulhe nos preços baixos, venha morar como um milionário, só louco para perder as nossas ofertas.

Distribuir folhetos na rua com uma roupa de esquiador (para vender o empreendimento que fará você se sentir nos alpes) ou de gueixa (para lançar o exclusivo flat com decoração oriental) traz, além do mico, os efeitos do calor de Porto Alegre. Horas e horas de pé, na poluição, não raro ouvindo desaforos dos motoristas e com o agravante do mormaço a cozinhar lentamente o trabalhador dentro da sua fantasia de Pluto. O publicitário que inventou isso merece arder no inferno.

É verdade que a distribuição de folhetos na rua acabou criando uma espécie de ocupação. E remunerando por ela. Mas, que isso é uma forma de propaganda que deveria ser melhor avaliada, é.

Na maioria das vezes, os impressos em quatro cores, com muitas dobras, brilhos, papéis de gramaturas altas e preços idem, terminam no lixo ou no chão, em um grande desperdício de esforço, material, tempo, dinheiro. Deve ser a propaganda menos ecologicamente correta que existe. E será que convence alguém?

De qualquer jeito, a distribuição continua. E agora mesmo, em alguma esquina, o lobo mau e os três porquinhos, bem ou mal, vão ganhando a vida.

Mais mal que bem. na pró­xi­ma quinta-feira: Letícia wierzchowski

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