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sexta-feira, 2 de setembro de 2011
02 de setembro de 2011 | N° 16813
PAULO SANT’ANA
Revolução no casamento
Não é preciso dizer que sou um preocupado com o casamento e com a separação. Volta e meia, voltam à minha cabeça esses temas recorrentes em minha coluna.
O que me abisma é o número crescente de separações. E há que se distinguir entre o casamento antigo, aquele do início do século passado para trás, e o casamento moderno, esse que se tornou padrão em nosso tempo.
O casamento antigo era o do arranjo, o da escolha dos noivos pelas famílias, por indicação. E até, e muito, pelo interesse.
Ou seja, a base no casamento antigo não era o amor. Era o conviver, a amizade, a panelinha e até, muitas vezes, os noivos se casavam sem terem qualquer ideia um sobre o outro.
Já com o casamento moderno, deu-se uma grande transformação. Ele passou a ser presidido pelo amor, romantizou-se o casamento.
O que se passou a dizer então foi que certos são os namorados que se casam porque se apaixonam um pelo outro.
E como, para haver casamento, tinha de haver amor, então ficou consagrado o romantismo no matrimônio. O símbolo da união entre homem e mulher passou a ser aquele beijo que os noivos celebram diante do sacerdote ou do juiz de paz.
Romantizado o casamento, esqueceu-se então do fundamental. Se o casamento passava a ser agora ligado essencialmente ao amor, como ficariam, com o decorrer do tempo, os casais que vissem o amor morrer durante o casamento?
Ou seja, o casamento antigo era o casamento contratual. E o casamento moderno passou a ser o casamento físico, baseado no desejo, na paixão e no amor.
Voltando à finitude do amor, evidentemente que a paixão e o desejo são marcados pela efemeridade. E, tendo cessado o amor, cessará também o casamento, sobrevindo então a separação.
É o fenômeno que ocorre com o casamento moderno, esse festival de separações que faz com que certos homens se casem uma vez, se separem, casem-se uma segunda, uma terceira vez.
E dê-lhe se separar.
Não se dava isso no casamento antigo. Os casais não se separavam (claro que falo na maioria dos casos) porque lhes faltava motivo para se separarem.
Como não tinham se casado por amor, não se exigia amor para que se casassem, a falta de amor deixava de ser motivo para acabar com o casamento. Iam levando adiante um casamento que não tinha amor, mas não tinha amor desde o seu início, portanto não era necessário que o tivesse durante o transcurso.
Não se separavam, portanto.
Essa é a diferença entre o casamento antigo e este nosso casamento de agora, farto de separações.
Não sei, sinceramente, se estavam certos os antigos, o que sei é que não estamos certos nós.
O que sei é que no futuro os humanos vão dar ao casamento outro caráter, prevendo a fadiga dos metais, adivinhando que um dia o amor chega ao fim e é preciso administrar o casamento de uma forma que a separação não se torne traumática e seja encarada pelos atingidos por ela como uma normalidade esperada.
E que não não deixem de separar-se os cônjuges, como acontece agora tantas vezes, por medo do trauma da separação.
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