10 de abril de 2011 | N° 16666
PAULO SANT’ANA
A ração animalesca
Descobri, então, por que os veterinários mais ilustres ensinaram para os veterinários menos eruditos, que espalharam a lição para todos os donos de cães, no sentido de que os cachorros devem sempre comer somente ração animal.
Os veterinários mais ilustres buscaram esse conhecimento nos seus casamentos: como eles vivem com suas esposas há 10,15, 20, 30 anos, obrigados somente a consumir suas rações conjugais, vingam-se dessa sua vida enfadonha obrigando os cães a comerem sempre somente suas rações animais.
Em tempo: as veterinárias também adotaram esse ensinamento em face de seus casamentos repletos de fadiga conjugal. (Eu faço esta ressalva porque é muito chato ter de responder às mulheres que quando escrevo maridos, esse conceito vale também para esposas.)
O Moisés Mendes, por exemplo, tinha um cão da raça labrador. Ele pulou para o quintal do vizinho e o Moisés achou que ele queria um romance com a cadela do vizinho, pois ela também era labrador e se encontrava no cio.
Nada disso, o cão do Moisés desdenhou completamente da cadela do vizinho e se atirou a devorar a ração animal dela.
De onde concluí que, quando o cão é castrado, como era o do Moisés, aí então ele só se interessa pela ração animal.
Por sinal, eu acho interessante que, embora empanturrados de sua ração animal, os cães estão sempre interessados em outros alimentos.
Eles podem estar fartos de ração, mas se aparece um bifezinho, uma salsicha, um salame, eles enlouquecem.
O meu cão, o Kunga, por exemplo, tem sempre a sua disposição, na cozinha, um potezinho onde deposito a sua água.
Ele quase nunca está com sede. Mas, quando ponho para ele no potezinho uma Fanta Uva, ele se embebeda do refrigerante e o toma com um entusiasmo jamais visto quando ele bebe água.
Se nós bebemos vinho sempre acompanhado, em outra taça, de água mineral, por que os cães, animais como nós, não gostariam também de variar o que ingerem?
Ninguém consegue comer a mesma comida e beber a mesma bebida durante a vida inteira, assim como os veterinários condenam os animais.
Nem espaguete, que eu adoro, consigo comer três dias consecutivos.
Sei de casos de presidiários que foram mantidos durante 30 dias em celas de castigo que preferiram se suicidar a comer todos os dias, sempre, arroz com guisadinho de carne.
Tem de variar, tem de variar.
Apenas para dar uma atualizada nos meus leitores sobre meu boletim médico: tiro nesta semana, através de uma cirurgia, o meu segundo tumor na cabeça em 15 dias. O primeiro tumor era maligno. Estou torcendo para que este segundo não o seja, embora tenha vizinhança rinofaríngea com o primeiro.
Se for maligno este segundo, o cirurgião vai extirpar na hora dezenas de linfonodos satélites.
Cumpro assim meu destino.
Será o que Deus, meus amigos e meus parentes quiserem. E o que os médicos dispuserem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário