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terça-feira, 26 de abril de 2011
26 de abril de 2011 | N° 16682
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Acidente de percurso
Na calma destas manhãs de domingo, costumo revisitar minha infância. Cachoeira era então uma cidade atrevida e próspera. Perguntei uma vez a meu pai se Cachoeira era maior que Caxias, e ele respondeu que sim. “Cachoeira”, disse, “é a maior produtora de arroz do Brasil e a quarta praça financeira do Estado. Isso quer dizer que só outras três cidades gaúchas têm mais movimentação de dinheiro que a nossa, aí incluindo Porto Alegre.”
E se perguntava se Cachoeira tinha aeroporto, meu pai respondia imediatamente que sim. São três voos semanais, da Varig e da Savag, ligando-nos com a Capital. “E temos cinemas?” “Temos dois: O Cine-Teatro Coliseu e o Cine Ópera Astral.” E porto, temos? “Claro que sim. Basta descer a ladeira da Rua Morón e tu encontrarás um amplo ancoradouro povoado de embarcações.”
E em indústrias, como estamos? “Vai à Estação Ferroviária – aliás, ligada diariamente com Porto Alegre e Santa Maria – e verás uma fileira de imensos engenhos, capazes de abastecer o Brasil.”
Eu ouvia essas e outras coisas de meu pai e ficava orgulhoso de minha cidade. Havia mais: tinha um hospital – onde aliás nasci – comparável aos mais modernos das três Américas. Não nos faltavam lideranças: em um governo eram nossas as secretarias da Educação e Cultura e a da Agricultura. O mais belo e moderno clube do Rio Grande do Sul – o Comercial – ficava bem no centro do centro da Rua Sete, com seus mármores e cristais.
E estávamos bem servidos de igrejas? Meu pai sorria: “O grande historiador Athos Damasceno Ferreira descreveu a Matriz como mais ampla que a própria catedral de Porto Alegre”. Tinha, antes da desastrosa reforma que a deformou e desfigurou, um altar-mor, vários altares laterais e santos ancestrais, talhados nas Missões, cuja idade se media por séculos.
E ornavam a cidade lindas casas? “Lindíssimas”, comentava meu pai. “Um bairro chamado Rio Branco reunia esplêndidas mansões, que não fariam mau papel num recanto da Europa”.
Mas então o que houve com Cachoeira?
“Um acidente de percurso”, diria hoje meu pai. “O tempo passou e ela esqueceu de crescer.”
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