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quarta-feira, 13 de abril de 2011
13 de abril de 2011 | N° 16669
DIANA CORSO
Memória da destruição
Depois de muito expor, o artista plástico Franz Krajcberg se exilou num sítio, em meio às árvores que cultivou e que são hoje tão velhas quanto ele, que completou 90 anos dia 12 de abril.
Ele é dono de um trabalho ímpar: esculturas compostas de troncos, ramos e raízes recolhidos em queimadas ou zonas de desmatamento, que ganham vida, mas trazem cicatrizes do encontro com a onipotência dos homens (ver em: krajcberg.vertical.fr).
O homem não desistiu, aprofundou-se, foi escolhendo caminhos que o embrenhavam no interior da sua floresta particular. Deixou de fabricar Pinóquios, pedaços de pau que na sua mudez falam e reivindicam como o marionete de Collodi. Agora é ele que se lignifica lentamente, não vai morrer, vai virar árvore.
De origem judaico-polonesa, sobreviveu a vários momentos trágicos da Europa, lutou e viu seu mundo e família serem assassinados, queimados, ruírem. Saído da guerra, refugiou-se neste país tropical que somos.
Muitos vieram apostando que a exuberância destas terras renderia eterna fartura aos que nelas se exilassem. Cantaram as matas verdejantes, seus frutos e gente morena, deitaram-se em redes, esquecidos do seu velho mundo hostil.
Fazem isso desde que o Brasil foi descoberto. Krajcberg não aportou no Brasil para entrar em algum tipo de fantasia idílica, suas retinas continuaram constatando a destruição, mesmo quando ela ainda não era visível.
Era inegável que a natureza estava queimando como as cidades que viu arderem na guerra, que a vida das florestas fenecia, como os corpos magros dos famintos, prisioneiros das misérias bélicas que testemunhara. Fugiu de um genocídio para esbarrar num massacre vegetal. Sua obra é por ele intitulada de “memória da destruição”.
Experiências traumáticas esterilizam o discurso, as guerras deixaram gerações de silenciosos, quem viveu o horror sente que contar é reviver, envergonha-se de sobreviver, seu passado é inefável, não espera ser compreendido. Poucos conseguiram tomar a palavra, mas ele o fez esculpindo com as raízes retorcidas de uma natureza que descobriu estar sendo também bombardeada. Para Krajcberg uma destruição é sempre metafórica de outra.
Agora, somente fotografa. Como se estivesse coletando e preservando imagens de plantas: espécimes para uma Arca de Noé imaginária. Seus olhos substituem as imagens do que não gostaria de ter visto por outras, maravilhas vegetais que não quer que desapareçam. Fotografando envia-as para uma posteridade à qual não tem muita esperança de que chegarão. A destruição é inesquecível. Sua arte, um modo de sobreviver
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