sábado, 16 de abril de 2011



16 de abril de 2011 | N° 16672
NILSON SOUZA


A era da colaboração

O pesquisador canadense Don Tapscott, páginas amarelas da Veja desta semana, disse que o mesmo gênio da tecnologia que havia proporcionado a prensa móvel a Gutenberg saiu da garrafa outra vez para criar a internet.

A imprensa – ele assegura – nos deu acesso ao conhecimento que já havia sido produzido e estava registrado. A internet nos dá acesso ao conhecimento contido no cérebro das outras pessoas em qualquer parte do mundo.

A principal consequência desta revolução é o que ele chama de “era da colaboração coletiva”, na qual as pessoas, as empresas e até os governos veem-se compelidos a trabalhar em conjunto para inovar, para criar valores, bens e serviços. É a wikinomia – um sistema econômico regido pelo mesmo princípio da Wikipédia, a enciclopédia digital feita e atualizada constantemente pelos usuários.

Tudo faz sentido. As novas possibilidades de acesso, produção e divulgação de informações estão mesmo derrubando barreiras, conceitos e até ditaduras. É inquestionável que o indivíduo ganhou poder.

Em poucos cliques, as pessoas se identificam, formam comunidades de interesse e ganham força para defender suas causas. Só mesmo lideranças anacrônicas continuam achando que a concentração de conhecimento e informação lhes garante supremacia sobre seus liderados.

Mas nem tudo são flores neste admirável mundo novo da comunicação instantânea. O cérebro das pessoas, cada vez mais acessível, pode ser também uma caixa de Pandora, de onde só saem coisas ruins.

A internet igualmente dá poder a gente do mal, que usa os dedos e a magia do instrumento para ferir, fraudar e discriminar. Diante desta realidade, fico pensando: será que esta cooperação determinada por razões econômicas não acabará boicotada pelo terrorismo digital?

A mudança de paradigmas sempre choca. Resisto em aceitar, talvez por algum sentimento de autopreservação, que o declínio dos jornais e a obsolescência do jornalista são inexoráveis neste ambiente multimídia em que cada indivíduo se transforma em editor e no qual as informações circulam em nuvens.

Continuo achando que não basta ter acesso fácil a dados superficiais, como fazem milhões de usuários da rede, para fazer bom uso deles. Alguém tem que saber decodificá-los. Alguém tem que explicar melhor o que a internet não conta. Alguém tem que surpreender com notícias e comentários inesperados. Espero que essas tarefas continuem a cargo dos jornalistas.

Alguém – suprema pretensão – talvez tenha que organizar as nuvens.

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