Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
20 de abril de 2011 | N° 16676
DAVID COIMBRA
O gol do bem vestir
Não entendo nada de moda mesmo. A Patrícia Pontalti, a quem conheço e reconheço a competência, entende. Ela é consultora de moda respeitabilíssima naquele ambiente coruscante ao qual chamam de “mundo fashion”. Pois na segunda-feira, aqui em Zero Hora, a Patrícia descreveu assim a roupa que o Falcão usou em sua rentrée no Inter:
“...um híbrido de estilos, brincando com um clássico da alfaiataria, no caso o paletó, coordenando a uma calça preta mais casual, que até parece um black jeans, uma camisa xadrez em que imperava a cor de seu time e um tênis no mesmo tom, vermelho. Fez um jogo interessante e emplacou o cobiçado gol do bem vestir”.
Só então percebi minha vasta ignorância. Em primeiro lugar, porque, ao ver o Falcão à beira do campo, achei aquela roupa apenas estranha. Não tive capacidade de reconhecer a elegância, estando diante dela. Em segundo, porque jamais suspeitaria de que ali havia premeditação. É uma ideia encantadora imaginar que, no sábado, em algum momento antes do jogo, Falcão entrou em seu closet e pensou:
“Agora, farei um híbrido de estilos”.
Em seguida, passando a mão pelos cabides, roçando nas peças de pano com parcimônia, decidiu:
“Brincarei com um clássico da alfaiataria, esse paletó aqui, e coordenarei esse clássico com uma calça mais casual, uma que até pareça um black jeans. A camisa? Hmmm... Vestirei essa xadrez, em que impera a cor do meu time, e calçarei aquele tênis no mesmo tom. Perfeito!”
Essa inteligência, essa capacidade de saber o que combina com o que, de fazer “um jogo interessante”, algo de caso pensado, com a intenção de produzir determinado resultado, isso não é para qualquer um. Isso é para quem foi o Rei de Roma. É para quem está acostumado com gravatas italianas e ternos cortados sob medida.
Mas também há outra constatação a se tirar do modelo envergado por Falcão na pista atlética do Beira-Rio, e essa talvez seja mais relevante: o modelito funcionou porque, dentro dele, estava o Falcão. A ousadia só é perdoada se ela vem de quem se espera ousadia. Quer dizer: só é aceita se, ao praticá-la, a pessoa não está sendo ousada; se está sendo apenas o que se acredita que ela será. Em outras palavras, a ousadia agrada apenas quando não é ousadia.
Em Falcão vale qualquer híbrido de estilos. Enfie o Dunga dentro da mesma roupa e plante-o à margem do campo. Duvido que alguém diga que ele emplacou o cobiçado gol do bem vestir.
Lobão versus Chico e Caetano
Assisti ao Lobão atacar com a voracidade de uma alcateia inteira ao Chico Buarque e ao Caetano Veloso no último Manhattan Connection. Contou, o Lobão, que sua mãe (a dele) era apaixonada pelo Chico Buarque tanto quanto pelo Médici, nos anos 70. Amava os olhos d’água de um e de outro ao ponto de se perder naquela imensidão azul e já não saber que olhar era de quem. Queria dizer, com isso, que Chico e Caetano não contestavam nada nem ninguém. Que são inofensivos.
Claro que, ao criticar Chico e Caetano por serem inofensivos, Lobão está gritando que ele próprio não o é. Ao contrário, que se trata de um contestador. Um renovador. Apesar de também ser, como ele próprio se definiu no programa, “educado e doce”.
Hm. Não sei se Lobão é educado e doce, mas considero-o um bom músico, autor de algumas boas músicas. Mas não sei se ele é muito mais do que bom, talvez conheça pouco do trabalho do Lobão para dizer, o que possivelmente é uma falha minha.
Pior: o que conheço do trabalho do Lobão não me leva a concluir que ele seja contestador ou renovador. Também não me leva a concluir que seja melhor letrista ou músico ou o qualquer outra coisa do que Caetano e Chico, dois gigantes da arte brasileira, que, esses sim, conheço.
O que vi, na manifestação do Lobão, foi uma necessidade adolescente de profanação dos próprios ídolos. Decerto que Lobão queria ser um Chico ou um Caetano. Assim como muitos, no Grêmio e no Inter, queriam ser um Renato ou um Falcão ou ter a dimensão que têm Renato e Falcão. Mas Renatos e Falcões são raros como Chicos e Caetanos. É duro saber disso. E pior ainda é saber que só se é um Lobão.
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