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sexta-feira, 8 de abril de 2011
08 de abril de 2011 | N° 16664
DAVID COIMBRA
Por um Brasil sem armas
Olhava para meu filhinho brincando com sua motoca de plástico ali perto de mim enquanto ouvia as notícias sobre o massacre no Rio de Janeiro. Olhava para ele, ele cantava e ria sozinho, e eu ouvia que um psicopata invadira uma escola e atirara em dezenas de crianças, mirando na cabeça. Vários feridos, 12 mortos, 10 menininhas. Elas foram alvos fáceis, porque sentavam na frente da aula, queriam aprender.
Ouvi que os pais de outras crianças, de outras partes do Rio, saíram correndo de suas casas e seus locais de trabalho e foram para as escolas de seus filhos e os resgataram de lá e os levaram para a segurança do lar. Uma reação ilógica, o crime terrível já havia sido cometido, mas entendi esses pais. Porque eu também, olhando para o meu filhinho, senti o coração apertado e tive vontade de guardá-lo onde ficasse a salvo do Mal.
Ah, meu filhinho, o que é que eu posso fazer para te proteger? Como posso afastar de ti as crueldades do mundo?
Não posso. Ninguém pode. A gente tem que contar com a sorte. Mas uma desgraça como essa do Rio pelo menos pode fazer com que nós, a sociedade, pensemos a respeito. Podemos tentar compreender por que isso aconteceu e o que fez com que isso acontecesse, para que possamos tomar precauções. Para tentar evitar que se repita.
Há muito que se refletir a respeito. A insanidade dos dias de hoje, a insegurança nas escolas etc. Mas há um ponto nevrálgico: o tipo de crime. Um tipo de crime recorrente nos Estados Unidos. Por que especialmente nos Estados Unidos? Porque os Estados Unidos são o país mais belicista do mundo.
Nos Estados Unidos, basta você não ter antecedentes criminais para entrar em um supermercado e comprar uma arma. Você poderá comprar inclusive uma arma automática, dessas que disparam 60 tiros em um minuto.
Há seis anos, o Brasil promoveu um plebiscito sobre o desarmamento. Venceu a ingenuidade das pessoas de bem que acreditam que, armadas, vão proteger suas famílias e seu patrimônio. Não vão. As armas que o cidadão honesto compra para se defender acabarão nas mãos de bandidos ou de malucos como o do Rio.
Porque a arma do cidadão de bem está descarregada, em cima de um roupeiro. Quando o bandido ataca, com o fator surpresa a seu favor, com uma pistola na mão, a vítima não tem tempo para buscar sua arma. E a arma sai de cima do roupeiro para os dedos do bandido, que com ela atacará outros homens de bem.
Em países mais civilizados, como a Inglaterra e o Japão, nem a polícia tem acesso a armas letais. Armas de fogo são reservadas a forças especiais e ao Exército. É como deveria ser no Brasil. Um Brasil em que o meu filho, em que nossos filhos tivessem mais chances de viver em segurança, seria um Brasil sem armas, um Brasil em que a posse e o porte de armas fosse punido com muito mais rigor do que é hoje. Em que o crime contra a pessoa fosse punido com muito mais rigor do que é hoje.
Psicopatas como esse fanático do Rio sempre vão existir no mundo. Sempre existiram. Não há diferença nas loucuras de hoje, de ontem e de amanhã. Mas a diferença entre um psicopata armado e um desarmado pode ser a diferença entre o drama pessoal e a tragédia pública. A diferença entre uma vida miserável e muitas mortes miseráveis.
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