terça-feira, 12 de abril de 2011



12 de abril de 2011 | N° 16668
CLAUDIA TAJES


Eu (não) quero ter um milhão de amigos

Antes, a gente fazia amigos por simpatia, afinidade, admiração e, se nada disso importasse, pela boa e velha química. Quem não amou perdidamente alguns amigos que, na teoria, não tinham nada a ver, mas que eram as melhores e mais engraçadas companhias, ainda que para dias e eventos específicos?

Daí o senhor Mark Zuckerberg inventou o Facebook (ou se apropriou da ideia, segundo a história), virou o biliardário mais jovem do planeta e transformou a amizade em commodity, este termo do economês que designa, inclusive na língua brasileira, produtos básicos e de consumo largo como o feijão, o café e o trigo.

Depois do Facebook, a amizade virou ovo, milho, algodão. Perdeu completamente a marca. Basta clicar em “confirmar” e pronto, viramos amigos.

Perco a conta dos pedidos de amizade que recebo a cada dia no Facebook. Apesar de não conhecer a imensa maioria dos meus candidatos, confirmo todos. Quem sou eu para recusar alguém que me queira como amiga? Ainda assim, sabendo das minhas manias, é bom que a internet nos separe. Certamente seremos grandes amigos, basta que a gente jamais se encontre.

Hoje sou amiga de adeptos do sertanejo universitário e de adoradores da Madonna. Muitos me mandam convites para integrar as torcidas organizadas do Inter, mas esses, acho eu, só estão tirando sarro de mim. Um grupo sempre me chama para Bailes da Melhor Idade e uma facção sadomasoquista volta e meia me pede para escrever seu manifesto.

Mas há o outro lado. As gurias de uma confraria de leitura viraram boas companheiras e vários amigos virtuais passam adiante trabalhos e informações para seus contatos, o que gera uma divulgação e tanto.

Enquanto isso, o mundo trata de reforçar as amizades de verdade, essas que se parecem com um presente ou uma recompensa. Depois de uma cirurgia, saí do hospital meio grogue, mas com todas as razões para preferir a vida real à rede social. Os médicos foram amigos, os amigos não saíram de perto, a família esteve junto, o namorado não arredou pé por um minuto.

O Facebook é um sucesso, mas não tem jeito. Para curar de tudo, solidão, males do coração, sequelas de operação, bom mesmo é ter amigos do lado de cá do computador.

Depois do Facebook, a amizade perdeu completamente a marca. Basta clicar em “confirmar” e pronto, viramos amigos

Nenhum comentário: