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sábado, 23 de abril de 2011
23 de abril de 2011 | N° 16679
ARTIGO | NILSON LUIZ MAY*
O duplo ofício
Nada mais adequado ao momento atual desta coluna do que abordar a condição que possibilitou a Moacyr Scliar toda sua exitosa carreira: o “duplo ofício”, ou, conforme outros, as “duas culturas”. Trata-se, no caso, de exercer a duplicidade de ofícios, a de ser médico e escritor.
É comum afirmar que os médicos têm pendores para o exercício da literatura. Talvez haja alguma verdade nisso, embora os considerados maiores escritores na história da literatura ocidental não tenham sido médicos.
Desde o antigo Egito, os homens que exerciam a medicina eram pessoas cultas, mas, em geral, não estavam incluídos entre os principais pensadores da época. Tampouco no período greco-romano aparecem ao lado dos que praticavam as “humanidades” nas academias. Somente após a Idade Média, no decorrer do século 16, é que vamos encontrar os primeiros assim chamados médicos escritores.
O mais famoso, reconhecido na posteridade, foi o clérigo e estudioso das literaturas grega e latina François Rabelais (1494–1553). Consta que um seu protetor mandou construir confortável casa onde pôde instalar-se com seus livros e instrumentos cirúrgicos, permitindo assim a melhor prática de seus dois ofícios. Séculos após, os médicos foram mais personagens de Molière e Voltaire, vítimas de sátiras e críticas, do que autores.
Uma das explicações para o exercício do duplo ofício deve-se ao fato de que o médico, assim como o escritor, é a mais preciosa testemunha do espetáculo da vida. Assiste e depõe.
Pelo contato diário com a doença e pela carga emocional à beira do leito, sente o hálito próximo da morte. São ofícios que se complementam e, no dizer de Ernesto Sábato, “afundam no sentido geral da existência, numa tentativa dolorosa de chegar até o fundo do mistério”.
Jorge Luis Borges (1899–1986) considerou que “o escritor é um bibliotecário imperfeito. Às vezes, frente à impossibilidade de encontrar o livro que procura, escreve outro, e outro, e outro...”. A medicina também exerce e pratica essa tarefa de busca da perfeição, imperceptível e infinita. Scliar exerceu as duas num processo de eterna renovação.
*Médico e escritor. Membro da Academia Sul-Riograndense de Medicina
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