sábado, 16 de abril de 2011



16 de abril de 2011 | N° 16672
CLÁUDIA LAITANO


O jurado número 8

Quando o cineasta Sidney Lumet morreu, no sábado passado, aos 86 anos, o veterano crítico americano Roger Ebert dedicou-lhe um tocante texto de despedida, qualificando o diretor nova-iorquino como um dos grandes humanistas da história do cinema. Produtivo e lúcido até os últimos anos, o autor de clássicos como Um Dia de Cão, Serpico e Rede de Intrigas conseguiu um feito não muito comum na carreira de artistas longevos: entrou e saiu de cena com duas obras-primas.

Seu último trabalho, o impactante thriller Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2007), é daqueles filmes que saem com você do cinema e o deixam desassossegado por alguns dias, antes de repousar definitivamente no arquivo vivo da memória. Mas a obra-prima que eu queria lembrar aqui é aquela que marcou a estreia de Sidney Lumet no cinema: 12 Homens e uma Sentença (1957), um dos filmes que talvez expliquem por que aquele jovem diretor seria lembrado no futuro como um dos grandes humanistas da sua geração.

Apesar de aparentemente se encaixar na categoria “drama de tribunal”, 12 Homens e uma Sentença não é um título convencional do gênero. O suposto criminoso, um garoto de 18 anos de um bairro pobre de Nova York, mal aparece no filme, e ao final da história nem sequer ficamos sabendo se ele realmente matou o próprio pai ou não. O que está em jogo ali não é a construção dedutiva da verdade aos moldes de uma trama policial ou mais uma reflexão sobre os limites da Justiça em uma democracia.

Tudo isso está no filme, operando na superfície da história, mas o que torna 12 Homens e uma Sentença uma obra-prima é menos a trama em que os personagens estão envolvidos (O garoto cometeu ou não o crime? Há evidências suficientes para condená-lo à morte?), mas a forma como os jurados interagem. O filme nos apresenta uma espécie de sinfonia humana – com cada um dos 12 jurados encarnando tipos universais e atemporais, facilmente identificáveis em qualquer grupo de pessoas.

Há o sujeito irascível, que bate na mesa e se impõe mais pela intensidade da voz do que pela força dos argumentos. Há a turma dos retraídos, dos quais com dificuldade se extrai uma posição firme. Há os que oscilam ao sabor das opiniões alheias. Há os que querem se livrar rapidamente de qualquer tarefa para voltar logo a dedicar-se à própria vida. Há o velho sábio, mas já sem forças para se impor. Há o homem que não consegue perceber os próprios preconceitos e pensa estar exercendo o direito de opinião quando, na verdade, está questionando o próprio sentido da democracia – o princípio da igualdade.

E há, claro, o personagem de Henry Fonda. Herói do tipo “homem comum honrado”, que caía como uma luva no ator, o jurado número 8 representa a grandeza de todas as pessoas que lutam pela justiça e se empenham por causas alheias como se fossem suas, mesmo quando elas parecem perdidas.

Todas as vezes em que você navegar contra a maré para fazer aquilo que, intimamente, acredita que é certo, pode se orgulhar de estar sendo como o jurado número 8 – gente que faz diferença.

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