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terça-feira, 12 de abril de 2011
12 de abril de 2011 | N° 16668
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Minha vizinha mais bela
Segundo leio, pesquisas de cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa sugerem que 2% das estrelas semelhantes ao Sol possam ter planetas das dimensões da Terra e seriam habitáveis. Na Líbia se trava uma guerra por enquanto sem vencidos nem vencedores. E no Japão uma espantosa catástrofe ceifou milhares de vidas e coloca em jogo a própria segurança da energia nuclear.
São fatos impressionantes. Mas nada disso me causa tão grande impacto do que uma explosão que contemplo de minhas sacadas. Sem aviso prévio, a paineira que me dá a honra de sua vizinhança aqui na Rua Duque incendiou-se, de um dia para outro, da cor rosa.
Não é um rosa esmaecido. É um rosa brilhante que ilumina este ponto do Centro Histórico de Porto Alegre. Tenho visto esta mesma árvore nua, erguendo os ramos esquálidos para o infinito. Já a tenho também visto vestida de verde, num universo convidativo e acolhedor para os pássaros e seus ninhos.
Mas nunca a tinha contemplado assim neste estado tão perfeito de harmonia e de beleza.
Dizem que nos outonos as árvores se desnudam. Não é o que vejo neste exato instante de uma manhã de domingo. Falam que as árvores florescem durante a primavera. Não é o que constato neste dia outonal. Minha vizinha paineira se abre em sua máxima florescência neste começo de abril.
Gostaria de ter o talento e a arte de um fotógrafo para fixá-la em todo o seu esplendor.
Na Granja da Penha, em Cachoeira, tínhamos uma figueira monumental. Sua vida se contava em séculos. Sua copa cobria largo espaço de descampado e comentavam que em suas vigorosas raízes se ocultava um tesouro ancestral, composto de dobrões de ouro, ali escondidos pelos padres jesuítas das Missões. Ninguém jamais descobriu tamanha riqueza, mas havia outra: os pássaros de todas as espécies que se abrigavam em seus fortes troncos.
É dela que me lembro olhando a paineira aqui da Rua Duque, vigorosa e florescente. A figueira era maior e mais poderosa, mas a paineira tem uma força que as assemelha, com a vantagem nítida das flores.
Qualquer dia trago aqui o pintor Eduardo Vieira da Cunha para eternizá-la numa tela.
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