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domingo, 17 de abril de 2011
CLÓVIS ROSSI
Adeus, Fidel; adeus, silêncio?
PEQUIM - A América Latina despede-se hoje de Cuba como a conheceu no último meio século e que foi incorporada à memória sentimental do subcontinente, para ser amada ou odiada.
O 6º Congresso do Partido Comunista Cubano aprovará reformas econômicas que transformarão a ilha caribenha. Não se pode, impunemente, cortar a quinta parte dos postos de trabalho. Nem criar do nada impunemente um setor privado, mesmo limitado.
Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Dilma Rousseff, voltou de recente viagem à ilha convencido de que às reformas econômicas que serão lançadas hoje seguir-se-á a prazo relativamente curto a reforma política.
O Brasil, aliás, está sendo partícipe das reformas, embora involuntário. Financia a construção do porto de Mariel, que, segundo Marco Aurélio, só tem sentido se for para exportar para os Estados Unidos. Se é assim, implica o restabelecimento de relações, com todo o cortejo de consequências.
Espero que uma das consequências seja o fim do silêncio sobre Cuba por parte da intelectualidade de esquerda, tema de ensaio de Claudia Hilb, socióloga argentina, lançado pela Paz e Terra.
Claudia, militante de esquerda quando a revolução cubana incendiou corações, lamenta agora o silêncio, que atribui à ilusão de que haveria uma "parte boa" do legado revolucionário, qual seja o nivelamento social, dissociada da "parte ruim", a ditadura, "o domínio total do Estado sobre a sociedade.
A socióloga contesta a tese: "O processo de nivelamento das condições [sociais] e o processo de constituir uma forma política com vocação de dominação total são indissociáveis", diz ela.
Na hora em que a esquerda continua sob os escombros do Muro de Berlim, começa a cair mais um muro. Talvez seja a hora de construir algo com tantos tijolos.
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