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sábado, 9 de abril de 2011
09 de abril de 2011 | N° 16665
CLÁUDIA LAITANO
Meninas do Brasil
Não era para eu estar escrevendo sobre esse assunto. Em dois dias, não fui capaz de assimilar o choque das notícias da última quinta-feira, muito menos de esboçar algum pensamento suficientemente elaborado para valer a pena ser compartilhado. Perdão, leitores, mas esta coluna é uma confissão de incapacidade absoluta para transformar um soco no estômago em palavras.
Que reflexão tirar do ato extremo de uma pessoa desequilibrada? Falta de segurança nas escolas, excesso de armas em circulação, bullying, fanatismo religioso, sexo e culpa misturados...
Foram muitas as abordagens da tragédia de Realengo nas últimas horas – algumas apressadas demais, outras irresponsáveis até, mas todas, de alguma forma, refletindo uma necessidade urgente de digerir em conjunto essa dor. Todas tentando entender algo que é, em essência, inabarcável por uma linha única de raciocínio.
Porque ninguém entra em uma escola atirando em crianças por um, dois ou três motivos, mas por uma intrincada trama de desacertos em série. Wellington ficará tristemente célebre pela façanha macabra de ter conseguido, no Brasil da criminalidade endêmica, ser original. Por essa, ninguém esperava.
O que eu posso oferecer aqui é o relato pessoal de um dia que se arrastou mais lenta e pesadamente do que os outros. Minha filha de 12 anos, aluna de uma turma de sétima série, costuma chegar do colégio pouco antes da uma da tarde, quando estou no jornal trabalhando. Nunca almoçamos juntas, mas todos os dias ela me liga quando chega em casa – para contar que está feliz ou chateada por isso ou por aquilo ou apenas para dar um oi.
Quando o telefone tocou, perto do horário de sempre, eu já estava ansiosa, soterrada de notícias desde cedo, e ela vendo as imagens de Realengo na TV pela primeira vez. Contei que já tinha chorado várias vezes naquele dia, pensando que as meninas mortas tinham mais ou menos a idade dela e nomes como “luisa”, “larissa”, “bianca”. Não sei o quanto ela conseguiu entender desse estranho fenômeno que faz com que tragédias com filhos da idade dos nossos nos afetem tão fortemente e de forma quase física. À noite, quando pude finalmente me aninhar no colo dela, ficou bem claro quem estava consolando quem.
No dia seguinte, a tragédia foi o grande assunto na escola, como não poderia deixar de ser. Minha filha me contou que a maioria dos colegas tinha narrado histórias muito parecidas com a nossa: mães sendo consoladas pelos filhos, repentinamente mais fortes e sensatos – talvez por ainda não terem construído totalmente a discreta forma de desespero que toma conta dos adultos quando eles percebem a fragilidade essencial de tudo que mais amam.
Mas esse massacre não comoveu apenas mães e pais ou avôs e avós, mas jornalistas, médicos, policiais, políticos – gente tristemente acostumada a lidar com fatos trágicos. Talvez porque aquelas crianças morreram no único lugar onde os pais entregam seus filhos todos os dias com o coração tranquilo, como se a escola fosse realmente uma extensão da casa.
Mais do que o momento em que uma modalidade inédita de crime fez sua infeliz estreia no país, a última quinta-feira vai ser lembrada como o dia em que o Brasil chorou – não apenas as mortes das crianças do Realengo, mas a impossibilidade de proteger nossos filhos do imprevisível.
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