sexta-feira, 15 de abril de 2011



15 de abril de 2011 | N° 16671
PAULO SANT’ANA


Oradores sem microfone

Sempre me intrigou profundamente como os antigos lidavam com o problema de falar com as multidões.

Nunca ouvi dizer que Cícero, o grande orador romano, assim como Demóstenes, notável orador grego, que era gago, usava megafone para se dirigir às suas grandes plateias.

Então não sei como fizeram Moisés e Jesus Cristo para pregar os seus estupendos sermões a multidões de judeus.

Como tecnicamente se dirigiu a seu povo Moisés, quando desceu do Monte Sinai e foi anunciar à planície repleta de seus seguidores que ele tinha conversado com Deus no cimo do monte e trouxera-lhes duas pedras que continham os 10 Mandamentos?

Como Cristo fez para pronunciar seu lendário Sermão da Montanha, se devia haver pelo menos 8 mil ouvintes?

Imagino a dificuldade dele para se fazer escutar por toda aquela gente: “Bem-aventurados os humildes de espírito porque deles é o Reino do Céu. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos porque possuirão a Terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados. Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim”.

Cristo foi um grande orador. O mais famoso discurso que um homem já fez na Terra foi esse Sermão da Montanha.

Mas temo que muitas pessoas que estavam lá naquele dia histórico e lendário não ouviram nem de longe o que Cristo estava dizendo.

Será que imagino tolamente que havia taquígrafos entre os fiéis?

Para mal dos pecados, Moisés também era gago. E, na dificuldade que ele teve para anunciar os 10 Mandamentos, quem me diz que, pela precariedade de sua fonação e dicção, não eram 20 os Mandamentos?

No célebre discurso de Marco Antônio junto ao cadáver de César assassinado, Roma inteira estava diante do Senado, como pôde Marco Antônio ser escutado por aquela multidão estupenda?

E, no Coliseu de 50 mil pessoas, como podiam elas ouvir os imperadores, antes, durante e depois dos torneios mortíferos que lá se travavam?

Os imperadores falavam, discursavam, condenavam, perdoavam durante as justas do Coliseu.

Será que alguém os escutava? Ou o que eles diziam ia aos poucos se transmitindo entre o povo, aos recados, aos boatos, aos rumores?

Há grandes oradores referidos pela História, antes e depois da invenção do microfone.

Mas os de antes do surgimento do microfone foram heroicos.

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