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segunda-feira, 11 de abril de 2011
11 de abril de 2011 | N° 16667
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Scliar
É de Goethe a pertinente reflexão: a morte é uma impossibilidade absoluta que se transforma, de um momento para outro, numa trágica realidade.
Isso é particularmente claro quando pensamos em Moacyr Scliar. Sua presença na vida literária e cultural assinalava-se por uma profunda dimensão humana. O sentido de solidariedade ele o exercia com uma natural disposição para ouvir o outro, pensar sobre o que ouvia e responder no mesmo plano pessoal, intelectual e afetivo. Quer-se dizer: era um interlocutor atento e sem pressa.
Pode parecer algo adequado a um escritor. Mas não o é. Numa época de individualismo, em que o pronome “eu” esparrama-se em todos os textos, em geral começando todos os períodos gramaticais, Scliar compartilhava: atento ao que ocorria à sua volta, queria pormenores.
Falava de si apenas quando lhe perguntavam. E perguntavam-lhe muito, sobre a obra, sobre a vida, sobre a Academia. E ele respondia com paciência e devoção. Se o assunto levava a algum comentário desabonador acerca de alguém, mudava de assunto com um fair play invejável.
Tudo isso submergiu na tragédia que se abateu sobre o Rio Grande quando foi anunciada sua morte. Era impossível, era a impossibilidade absoluta de Goethe. Toda a comunidade literária considerava-o eterno, por sua vitalidade e seu extremo cuidado com sua saúde - e com a saúde alheia. Atônitas, as pessoas se perguntavam como isso fora possível. Nem as explicações médicas foram suficientes. Um homem assim não morre, não pode morrer.
O passar dos dias fez com que o fato concreto fosse mais forte do que a descrença.
Pouco a pouco, o doloroso espanto transformava-se em serena concordância com o destino.
Essa aceitação, contudo, vem temperada por uma certeza: Moacyr não compartilhou a sorte de um Kafka – de quem ele tanto gostava – que somente encontrou reconhecimento após a morte. Ele, Moacyr, o obteve em vida. A partir da metade de sua existência, ele fruiu a admiração unânime de seus contemporâneos.
Ingressou na Academia. Viu seus livros circularem em várias línguas. Em suma: conheceu o sucesso. Foi um homem feliz, com os objetivos alcançados. Esse é o grande conforto de seus leitores. Foi uma vida útil.
Quanto a nós, fica a honra de havermos compartilhado com ele o tempo que nos cabe viver nessa caminhada sem retorno.
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