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sábado, 23 de abril de 2011
24 de abril de 2011 | N° 16680
VERISSIMO
As aventuras da família Brasil
O formato do umbigo
O formato do umbigo é uma das pequenas coisas que determinam se somos maioria ou minoria na nossa própria espécie
Aquela pasta curta e oca que os italianos chamam de pene tem este nome porque lembra o pênis, mas não deve ser verdade que a inspiração para o nome veio do pinto pequeno do Davi de Michelangelo. Os mesmos italianos dizem que os tortellini têm o formato do umbigo de Vênus, mas este parâmetro, como o pinto do Davi, também não é universal, felizmente.
A variedade de umbigos côncavos, convexos, redondos, alongados etc. é, mesmo, uma das coisas que nos diferenciam um dos outros.
Muitas coisas nos unem. Somos todos bípedes mamíferos. Todos os nossos antepassados, sem exceção, eram férteis. Todos sobreviveram até no mínimo a puberdade e todos tiveram ao menos uma relação sexual, digamos, convencional e procriaram. Somos portadores de uma linha ininterrupta de DNAs triunfantes, portanto, e esta ascendência idêntica nos permite não só um sentimento de família como um certo orgulho do que conquistamos como espécie. A Natureza e os germes têm feito o possível para interromper nossa linhagem, mas perseveramos e prevalecemos. Pelo menos até agora.
Nossas diferenças estão nos detalhes. Machos e fêmeas, para começar pela diferença mais óbvia. A cor da pele, a diferença mais superficial e sem importância que existe. E detalhes mínimos, como o formato do umbigo. Sabe-se que há muito mais destros do que canhotos no mundo, mas que tipo de umbigo tem a maioria? E que percentagem lembra um “tortellini”?
O umbigo tem causado controvérsias há gerações. Discutiam se nas imagens do Paraíso se Adão e Eva deveriam aparecer com ou sem umbigo, já que não tinham nascido de partos normais, e sim feitos por Deus. Uma corrente justificava a presença de umbigos no primeiro casal como uma espécie de “imprimatur” do Criador, um carimbo bem no centro do corpo garantindo o equilíbrio da imagem e a autenticidade da obra.
Outros encerravam a questão argumentando que, como Deus tinha criado o Homem à sua imagem, apenas reproduzira em Adão e Eva seu próprio umbigo, e quem ousava especular sobre a origem do umbigo de Deus?
Na arte religiosa, os umbigos de Adão e Eva permaneceram. Como símbolo, ao mesmo tempo a marca da nossa ligação vital com o ventre materno e através dele com a nossa ascendência comum, com o cordão metafórico que atravessa os séculos e nos conecta todos ao começo da espécie, e a marca da nossa individualidade.
O formato do umbigo é uma das pequenas coisas que determinam se somos minoria ou maioria na nossa própria espécie. Podemos pertencer a categorias dominantes ou a pequenas dissidências, sem nunca saber. Quantos homens botam as mãos na cintura quando fazem xixi?
Ou uma mão na cintura enquanto a outra garante a pontaria? Somos multidões ou uma confraria que não se conhece? É mais comum abotoar a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima? E comer a casca do queijo? Ou gostar de bife de fígado?
Você pode se achar meio esquisito sem suspeitar que a maioria das pessoas tem a mesma esquisitice, ou achar perfeitamente normal mastigar a gravata e não entender a estranheza dos outros. O importante é, minoria ou maioria, nunca perder a consciência de que somos todos descendentes da mesma linhagem, a dos que venceram tudo que conspirava contra sua reprodução. E temos os umbigos para provar.
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