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sexta-feira, 29 de abril de 2011
Jaime Cimenti
Os míticos paraísos terrestres
A questão do paraíso aqui na terra ou no além e, especialmente o paraíso terrestre, tornou-se um mito e, ao mesmo tempo, sua história, sem dúvida, tornou-se um dos pilares da modernidade.
Como interpretar, por exemplo, as palavras do Gênesis, da Bíblia, sobre a criação do mundo? Stendhal, autor do clássico O vermelho e o negro, falando sobre a beleza, disse que o Paraíso não passa de promessa de felicidade e a nostalgia de uma origem perdida e que essa promessa e essa nostalgia designam uma falta, uma ausência, uma brecha na natureza humana.
No ensaio O Paraíso Terrestre, do historiador e conferencista escocês Milad Doueihi, essas e outras muitas questões são abordadas através de uma proposta inovadora. Milad reexamina o tema antigo como utopia permitindo compreender, de que forma, na Idade Moderna, essa utopia sustenta uma ética universal.
O autor narra os momentos-chaves no uso filosófico do conceito de Paraíso e, para tanto, segue os rastros das transformações da figura do Éden, de Santo Agostinho a Nietzsche, passando pelos escritos de Lutero, Bayle, Leibniz, Spinoza e Kant. Kant dizia ser o Paraíso o primeiro momento do uso da razão e do progresso na história do Homem.
Nietzsche descrevia o conceito de modo mais sombrio, como a personificação do conflito entre a humanidade e suas crenças. De fato, o Paraíso assombra o Ocidente bíblico. O Jardim do Éden representa, para muito além do imaginário religioso, uma estrutura de ordem e Milad não pretendeu, em sua obra, apenas escrever mais uma história do Paraíso e de suas representações.
Ele vai bem mais longe. Mostra como os debates modernos a respeito da natureza do mal, do livre-arbítrio e da origem da linguagem estão relacionados às interpretações filosóficas sobre o Paraíso.
Doueihi mostra que um entendimento mais completo sobre o Paraíso pode responder questões fundamentais à sociedade, ao mesmo tempo em que pode abalar e revisar antigas crenças da humanidade. Como se vê, tema e obra são profundos.
Os leitores poderão escolher com mais consciência, conhecimento e liberdade suas crenças e descrenças sobre paraísos, Deus, Bíblia, fé e outras questões milenares relevantes. Difel, 240 páginas, mdireto@record.com.br.
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