segunda-feira, 4 de janeiro de 2010


RICARDO MELO

Raposa no galinheiro

SÃO PAULO - Na calada de 2009, e como se nada tivesse acontecido, o presidente da Câmara Legislativa de Brasília teve a cara de pau de anunciar o retorno ao cargo.
É, ele mesmo, Leonardo Prudente.

Aquele político flagrado em vídeo ao guardar dinheiro nas meias, numa rara demonstração de desprezo por um sobrenome. Foi sucesso de audiência, não exatamente por desviar recursos públicos -atividade que, no Brasil, é multipartidária. O ex-filiado do DEM virou hit ao ampliar as possibilidades indumentárias da corrupção.

A volta de Prudente faz parte da manobra para livrar a cara dos envolvidos num dos maiores escândalos recentes. A começar da cara do gerente do esquema, o governador "demista" (chamá-lo de democrata é exagerar na ironia) José Roberto Arruda, o qual, além de sinônimo de corrupto, deixará para a história o legado de mentiroso patológico. Como raposa no galinheiro, será de P

rudente a tarefa de conduzir a criação de CPIs sobre o escândalo e os processos de impeachment de Arruda. A OAB, que patrocina um dos processos, mostrou-se indignada: "Não haveria desfecho mais lamentável para o 2009 do contribuinte brasiliense, lesado em ações fraudulentas por políticos como Prudente". Mas lamentar é pouco.

Já que o contribuinte vem sendo lesado, vai aqui uma sugestão: por que não entrar com uma ação para garantir o depósito dos impostos em juízo, e não nos cofres corrompidos do governo distrital?

Seria uma forma de cortar a irrigação do propinoduto que, suspeita-se, abastece até a sogra do governador. Serviria ainda para impedir que a quadrilha use verba pública para tentar calar a oposição, como fez ao manipular o reajuste do funcionalismo.

Meios para uma ação como esta certamente há. Bons advogados conseguem coisas muito mais difíceis. E, até o impeachment ser votado (ou a ação chegar ao Supremo...), o esquema demista teria que se virar sem o patrimônio alheio. Ou seja, enquanto Arruda e Cia. estiverem no poder, nada de dinheiro de cidadãos honestos. Mesmo em Brasília, eles ainda são a maioria.

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