quinta-feira, 7 de janeiro de 2010



07 de janeiro de 2010
N° 16208 - LETICIA WIERZCHOWSKI


Do Dia de Reis

Hoje é o dia da Epifania, dia em que os Três Reis Magos vindos do Oriente, guiados pela luz de uma estrela, finalmente alcançam Jesus em sua singela manjedoura, revelando ao povo a real importância do menino recém-nascido. Melchior, Gaspar e Baltazar depositam aos pés do menino, ouro, incenso e mirra.

O ouro representa a nobreza, o incenso, a dignidade, e a mirra, erva amarga, o sofrimento que esperava por Jesus. Por analogia, os Reis Magos estariam homenageando Cristo como um rei (com seu ouro), um deus (o incenso) e um homem (a mirra).

Nesse dia, encerram-se as comemorações natalinas; enfeites voltam às suas caixas e armários, luzinhas se apagam nas varandas e fachadas, nos shoppings, depois de exaustivos meses de liturgia consumista, finalmente cessam as cantigas de natal e desaparecem renas, papais noéis e afins. Aqui no Uruguai, onde viemos passar uns dias de férias, a criançada espera com euforia o Dia de Reis.

Segundo a tradição hispânica, antes de dormir deve-se colocar erva e água para os camelos dos Magos que, cheios de sede e fome nessa sua eterna jornada, deixam um presente para as crianças que deles se lembraram.

Faz pouco, ajudei meus meninos com suas oferendas. João serviu grama fresca em potinhos, e também água. Tobias, que nada entende mas se diverte bastante, derrubou seus tufos de grama pelo caminho, misturou-os à água do seu pote, e veio para dentro de casa todo contente – tradições cristãs não o alcançam, contenta-se apenas em imitar o irmão mais velho, e por isso foi dormir muito orgulhoso.

Ao escrever sobre o 6 de janeiro, concluo que meu Dia de Reis é sempre: pela manhã, diariamente meus dois filhos me entregam seus presentes. João deposita aos pés da minha cama o incenso da sua serenidade, e Tobias derrama sobre mim o ouro da sua esfuziante alegria.

Rendendo-me homenagens, ambos fazem de mim a mais fiel adoradora das suas pessoinhas; e seguimos felizes enquanto mais um ano começa, escondendo na cortina dos seus dias todo ouro e toda a mirra dos quais é feita esta vida. Estamos já em 2010 e, lá fora, sob um céu de estrelas, a comida e a bebida dos divinos camelos está garantida.

Que eles passem por aqui entre os arbustos floridos do pátio, que comam e bebam e se refestelem com o diminuto festim deixado pelos meninos. Em suas camas, exaustos do longo dia de folias, meus filhos sonham com presentes. Eu, aqui neste quarto silencioso, sonharei com eles. Afinal, são os filhos a verdadeira epifania da vida.

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