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sábado, 2 de janeiro de 2010
02 de janeiro de 2010 | N° 16203
NILSON SOUZA
Imortalidade
Cientistas de reconhecido prestígio internacional disseram outro dia ao Pedro Bial que dentro de 20 ou 30 anos poderemos escolher entre o nosso atual ciclo de vida e a imortalidade. O apresentador promoveu um debate sobre o assunto com algumas personalidades brasileiras, que receberam a possibilidade com ceticismo.
Não que descreiam da ciência. Os avanços da biologia e da genética têm sido tão impressionantes nos últimos anos, que ninguém mais duvida de nada. Ainda assim, alguns participantes do programa fizeram beicinho para a vida eterna porque, segundo explicaram, não têm certeza de que optariam por ficar neste mundo para sempre.
O próprio Oscar Niemeyer, consultado sobre o seu lúcido centenário, mostrou pouco entusiasmo pela longevidade. Poucos dias antes, ele já havia dado uma resposta contundente a um repórter que lhe perguntara como se sentia ao completar 102 anos:
– Preferia estar fazendo 20! – disse, sem sorrir.
Afora os vampiros da literatura e do cinema, que mantêm a aparência jovem e a admiração das adolescentes, parece que poucos indivíduos aceitariam viver eternamente. Consultei alguns conhecidos sobre isso e todos rejeitaram a ideia. Acho que ficamos traumatizados pela ficção científica, que invariavelmente mostra a imortalidade como uma maldição.
Os contemplados com a eternidade quase sempre se tornam criaturas velhas, solitárias e sofridas, pagando um preço insuportável pelo privilégio. Já vi filme em que o encanto acaba de repente e o sujeito (ou a sujeita, pois sempre impressiona mais uma mulher jovem e bonita) se transforma instantaneamente num monte de pó. Horrível. Talvez, por isso, prefiramos o método atual, que dá no mesmo, mas pelo menos é mais lento.
Fora da fantasia e da fé, os únicos imortais que conhecemos são os membros da Academia Brasileira de Letras, que infelizmente não são imorríveis, como um deles sabiamente alertou outro dia. Na verdade, o que eles ambicionam nem é ficar vivos para sempre: é a permanência de suas obras.
Morrer é aceitável – até porque (ainda) é inevitável. Insuportável é a ideia do esquecimento perpétuo. Só morremos efetivamente quando ninguém mais lembra de nós. Só morremos – mesmo em vida – quando ninguém mais nos ama.
Sobre este tema, Vinícius de Moraes foi definitivo: “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”.
Então, que sejamos imortais, cordiais e amorosos pelo menos neste ano que está começando. Depois a gente decide se quer continuar.
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