sábado, 5 de setembro de 2009



05 de setembro de 2009
N° 16085 - CLÁUDIA LAITANO


09/09/09

Em quase 20 anos de jornalismo cultural, já perdi as contas de quantas vezes os Beatles cavaram seu caminho de volta às manchetes nesse período. Filmes lançados em DVD, livros, antologias, músicas inéditas raspadas do baú, remixagens... as notícias “obrigatórias” em relação aos Beatles, acompanhadas invariavelmente de novos produtos, chegam em intervalos regulares ao mercado.

É como se um ardiloso e criativo cérebro do mal estivesse permanentemente maquinando estratégias de sobrevivência para a banda no imaginário musical do planeta.

Como se as fantasias de vida eterna alimentadas durante tanto tempo pela megalomania de Elvis Presley ou Michael Jackson (que evidentemente não deram muito certo...) tivessem se tornado realidade com os Beatles – se não com os homens de carne e osso que compunham a banda pelo menos com as músicas e a idolatria que elas ainda despertam.

Pois o inesgotável fôlego de renovação da beatlemania prepara mais uma exibição de força para a próxima semana, quando chegam ao mercado um novo videogame (para fisgar crianças e adolescentes) e um pacote de CDs retrabalhados com a tecnologia do século 21 (para convencer os velhos fãs a comprarem novamente todos os discos que eles já têm).

A data cabalística escolhida para a blitzkrieg musical é o 9 de setembro de 2009, com ecos não apenas na numerologia (e em seja lá qual significado esotérico que pode estar oculto por trás do número 9), mas também nos versos “number 9... number 9... number 9...”, infinitamente repetidos na faixa Revolution 9, do Álbum Branco (1968) – uma vela para a fé, outra para o bom marketing.

O resultado, mesmo antes da data marcada para o lançamento, já é suficientemente eloquente: o pacote com a obra completa remasterizada esgotou-se, ainda na pré-venda, no site da Amazon.com.

Vista do ponto de vista estritamente mercadológico, há algo de assustador nessa capacidade de os Beatles continuarem gerando devoção, e surtos de consumo em escala planetária, quase 40 anos depois do fim da banda.

Esse é um daqueles casos que combinaria à perfeição com todas as teorias conspiratórias de manipulação de ouvidos preguiçosos por marqueteiros gananciosos da indústria fonográfica.

Mas a realidade é que os mais empenhados agentes de marketing da banda são os próprios fãs – que há pelo menos duas gerações se encarregam de transmitir a beatlemania para os filhos como quem passa adiante um credo religioso. Qualquer um que já tenha ido a um show cover dos Beatles sabe que boa parte da plateia é formada por crianças, as mesmas que, involuntariamente, também ouvem os discos da banda desde bebês.

Em uma época em que a preocupação de passar tradições adiante não é exatamente uma prioridade na maioria das famílias, a beatlemania tem se imposto como um curioso, e surpreendente exemplo de transmissão de valor comum de geração para geração. Mas isso explica apenas em parte a contínua renovação da beatlemania.

O maior de todos os mistérios permanece sendo a capacidade da banda de fazer cada novo ouvinte se sentir tocado de uma forma única e particular pela sua música – exatamente como todos os fãs desde o princípio da era beatle.

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