
12 de janeiro de 2009
N° 15846 - KLEDIR RAMIL
Acabou o dinheiro
Pensei em fazer uma retrospectiva de 2008 mas cheguei à conclusão que o mais importante pode ser resumido em uma simples frase: acabou o dinheiro.
A quebradeira dos bancos americanos marcou o fim do capitalismo, quer dizer, desse tipo de capitalismo que vem sendo praticado. Chegou a hora do lucro desenfreado, desmedido e sem pudores, prestar contas. Mas pra quem?
Pra Deus? Pro governo dos EUA é que não é. Bush já torrou US$ 700 bilhões para socorrer a farra e Obama também vai meter a mão no bolso. Do contribuinte. Por uma ironia do destino, é o “Estado mínimo” precisando ajudar a iniciativa privada.
Os altos executivos dessa ciranda financeira, os gerentes do cassino, chamavam a si mesmos de Mestres do Universo, e remuneravam seus serviços – que eu me recuso a chamar de trabalho – com bônus e participações astronômicas.
Estão bilionários e seguirão assim. Sem prestar contas. Já o contribuinte americano vai ter que pagar a fatura dos abusos e riscos jogados na roleta bancária. De qualquer maneira, torço para que a economia recupere a saúde. Do contrário, seria o caos.
Minhas preocupações são de caráter coletivo, já que não tenho interesses pessoais depositados em bancos. Serei atingido apenas por tabela, como a grande maioria. Minha riqueza se resume a uma obra artística realizada e, mais do que tudo, à minha capacidade de continuar produzindo.
Esse é o meu investimento. Um artista é como a galinha dos ovos de ouro. É o tipo de coisa que não quebra, a não ser que alguém pegue um martelo e bata na cabeça do coitado.
Antigamente era pecado ganhar dinheiro com dinheiro. Eu sou meio old fashion, continuo acreditando que se deveria ganhar dinheiro com o trabalho. Vai ver que é por isso que não dá certo.
Meu filho chegou em casa entusiasmado com a “bolha”. Nada mais é do que um novo nome para aquelas correntes e pirâmides que fizeram sucesso há alguns anos. O cara entra com 50 e ganha 1 milhão (ou US$ 60 bilhões, no caso do Madoff).
É uma ilusão que só funciona pro esperto cujo nome aparece em primeiro na lista. Tentei convencer meu filho de que é uma roubada, que toda bolha sempre estoura, mas essa gurizada não me escuta mais.
Acho que eles têm razão. Quem sou eu pra ensinar economia de mercado no século 21? Um cara que cresceu ouvindo a mãe dizer: “Não mexe com dinheiro que isso é coisa suja!”.
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