
09 de janeiro de 2009
N° 15843 - PAULO SANT’ANA
Gaza é aqui
Ontem, fui a uma padaria e comprei meio quilo de pão sovado.
Sempre achei que o pão francês é mais delicioso, mas ele necessita ser esquentado para manter o gosto.
Como não tenho como esquentar o pão francês, compro o pão sovado, que é bom mesmo sem estar quente.
E quando comprei o pão sovado e gastei apenas um minuto para adquiri-lo, voltei meu pensamento para o povo de Gaza, que vive momentos de terror e escassez sob os bombardeios de Israel.
Lá em Gaza, com 700 mortos já contabilizados, depois de 14 dias de guerra, não há mais fornecimento de gás. A população está se valendo de fogões a lenha, insuficientes para conter o frio inclemente do inverno.
Com 6 milhões de habitantes, Gaza tem atualmente só três padarias funcionando.
Em cada padaria, há uma fila de mil pessoas para comprar pão. Isto é desumano, ninguém pode esperar 10 horas para comprar um pão que eu comprei em um minuto ontem numa padaria de Porto Alegre.
Isto é a guerra.
Um miserável pão cuja conquista dura 10 horas.
Eu tenho a mania primordial de me preocupar com a vida dos outros. Então fico eu aqui em Porto Alegre comparando a nossa vida com a vida dos outros povos.
E me apiedo com habitantes de Gaza, todos os dias cheirando aqueles cadáveres enfileirados em macas, prontos para serem enterrados, vítimas de uma guerra que não acaba mais, fermentada pelo ódio.
E comparo o Rio Grande do Sul com Gaza: foi noticiado ontem que a cada cinco horas um gaúcho é assassinado.
São cerca de cinco assassinatos por dia no Rio Grande do Sul. Em 2008, cerca de 1,6 mil gaúchos morreram por homicídio.
Isto é uma guerra. Nós só não nos apercebemos dela porque levamos apenas um minuto para comprar pão e temos gás suficiente em nossa casa para cozinharmos e tomarmos banho quente.
Na minha invectiva de compaixão por Gaza, grito que a guerra no Rio Grande do Sul é pior que a de Gaza. Porque EUA, França, Egito, estão todos empenhados para implantar uma trégua na guerra entre israelenses e palestinos.
Como sempre acontece por lá, morrem centenas, um milhar de pessoas na guerra e logo se estabelece uma trégua, um cessar-fogo, tudo volta ao normal.
Por que a guerra é pior aqui no RS? Porque aqui não há trégua, cada vez mais serão assassinados gaúchos todos os dias dentro de nossas fronteiras. É um ódio assassino incompreensível que faz com que os gaúchos se matem uns aos outros, em todos os recantos do Estado.
Até quando vão tombar pelas balas ou pelas facas os gaúchos nesta série horrenda e diária e permanente de assassinatos?
E se há ódio lá, entre Israel e Gaza, como ignorar que aqui no RS há ódio incessante, dedicado pelos assassinos às suas vítimas?
Porque o ódio é o combustível inseparável das relações humanas. Porque os homens querem assumir o lugar de Deus, num delírio de poder incontível, teimando em tirar a vida dos outros.
Não existe diferença entre o ódio entre judeus e palestinos e o ódio dos assassinos gaúchos contra suas vítimas. Só que lá em Gaza eles dão folga periódica para o ódio, aplacando-o com tréguas.
Mas aqui no Rio Grande do Sul, com 1,6 mil assassinatos por ano, nós não impomos trégua aos revólveres assassinos e às facas de aço frio e incisivo das carniçarias que fazem tombar todos os dias, de cinco em cinco horas, uma vítima, numa guerra mais infindável que a entre judeus e palestinos.
Não há mais fim para a guerra entre todos os homens. Por que não cessa o ódio entre os homens?

09 de janeiro de 2009
N° 15843 - PAULO SANT’ANA
Gaza é aqui
Ontem, fui a uma padaria e comprei meio quilo de pão sovado.
Sempre achei que o pão francês é mais delicioso, mas ele necessita ser esquentado para manter o gosto.
Como não tenho como esquentar o pão francês, compro o pão sovado, que é bom mesmo sem estar quente.
E quando comprei o pão sovado e gastei apenas um minuto para adquiri-lo, voltei meu pensamento para o povo de Gaza, que vive momentos de terror e escassez sob os bombardeios de Israel.
Lá em Gaza, com 700 mortos já contabilizados, depois de 14 dias de guerra, não há mais fornecimento de gás. A população está se valendo de fogões a lenha, insuficientes para conter o frio inclemente do inverno.
Com 6 milhões de habitantes, Gaza tem atualmente só três padarias funcionando.
Em cada padaria, há uma fila de mil pessoas para comprar pão. Isto é desumano, ninguém pode esperar 10 horas para comprar um pão que eu comprei em um minuto ontem numa padaria de Porto Alegre.
Isto é a guerra.
Um miserável pão cuja conquista dura 10 horas.
Eu tenho a mania primordial de me preocupar com a vida dos outros. Então fico eu aqui em Porto Alegre comparando a nossa vida com a vida dos outros povos.
E me apiedo com habitantes de Gaza, todos os dias cheirando aqueles cadáveres enfileirados em macas, prontos para serem enterrados, vítimas de uma guerra que não acaba mais, fermentada pelo ódio.
E comparo o Rio Grande do Sul com Gaza: foi noticiado ontem que a cada cinco horas um gaúcho é assassinado.
São cerca de cinco assassinatos por dia no Rio Grande do Sul. Em 2008, cerca de 1,6 mil gaúchos morreram por homicídio.
Isto é uma guerra. Nós só não nos apercebemos dela porque levamos apenas um minuto para comprar pão e temos gás suficiente em nossa casa para cozinharmos e tomarmos banho quente.
Na minha invectiva de compaixão por Gaza, grito que a guerra no Rio Grande do Sul é pior que a de Gaza. Porque EUA, França, Egito, estão todos empenhados para implantar uma trégua na guerra entre israelenses e palestinos.
Como sempre acontece por lá, morrem centenas, um milhar de pessoas na guerra e logo se estabelece uma trégua, um cessar-fogo, tudo volta ao normal.
Por que a guerra é pior aqui no RS? Porque aqui não há trégua, cada vez mais serão assassinados gaúchos todos os dias dentro de nossas fronteiras. É um ódio assassino incompreensível que faz com que os gaúchos se matem uns aos outros, em todos os recantos do Estado.
Até quando vão tombar pelas balas ou pelas facas os gaúchos nesta série horrenda e diária e permanente de assassinatos?
E se há ódio lá, entre Israel e Gaza, como ignorar que aqui no RS há ódio incessante, dedicado pelos assassinos às suas vítimas?
Porque o ódio é o combustível inseparável das relações humanas. Porque os homens querem assumir o lugar de Deus, num delírio de poder incontível, teimando em tirar a vida dos outros.
Não existe diferença entre o ódio entre judeus e palestinos e o ódio dos assassinos gaúchos contra suas vítimas. Só que lá em Gaza eles dão folga periódica para o ódio, aplacando-o com tréguas.
Mas aqui no Rio Grande do Sul, com 1,6 mil assassinatos por ano, nós não impomos trégua aos revólveres assassinos e às facas de aço frio e incisivo das carniçarias que fazem tombar todos os dias, de cinco em cinco horas, uma vítima, numa guerra mais infindável que a entre judeus e palestinos.
Não há mais fim para a guerra entre todos os homens. Por que não cessa o ódio entre os homens?
Nenhum comentário:
Postar um comentário