
UMA QUESTÃO DE LINGUAGEM
– C ñ podia me descolá um trampo no CP, Ju?
– Não apito nada – respondi, usando uma linguagem que me pareceu estranhamente anacrônica, embora dois minutos antes ainda estivesse fresquinha na minha cabeça e ultrapassado fosse apenas um colega meu que fala 'que pequena' toda vez que vê uma 'gatinha maneira'.
– Sei, Ju, mas vc trampa no CP, ñ trampa?
– Bem, acho que sim. Quer dizer, trampo (fiquei imaginando o mais-que-perfeito de verbo trampar).
– Então pq ñ faz + força pra me aju. Qro saí de ksa.
– Não entendi bem. Não podes escrever em português?
– Pô, Ju, já te flei pra naum c tiozinho.
– Tenho as minhas limitações.
– :-)
– Hummm...
– Tô 100 $.
– Por que não arranja um emprego.
– :-(
– Qual é?
– É isso. Qro um trampo.
– Não é comigo.
– Pq vc naum xegou na hr q eu t flei.
– Pirou?
– C eh um kra irado, Ju, naum vacila.
– Não, não estou irritado nem irado, moça. Só não sei do que tu estás falando. Para mim, tudo isso aí é grego.
– Naum flei q c tava irtdo. Flei q c eh irado.
– Chega dessa conversa fiada.
– Kd teu humor?
– Não tenho.
– Qro c aki cmg.
– Isso não é chinês. É grego. Ou bula de penicilina. Acho que te falta superego ou uma terapia ocupacional.
– Naum saquei. Axo c tb enrldo.
– Qual é a profissão do teu pai?
– Advgdo.
– :-)
– C vai rapdo, kra!!! Irado!!!!!!!!!
– Teu pai não te corrige quando tu usas esse internetês?
– Naum tem como. Ele usa data vênia em @.
– Ah!
– Ele eh mto 100 noção. Axo esse trampo do vlho doidao.
– O velho é doidão?
– O trampo dele.
– Hummm...
– Adoro qd tu eh clro assim.
– Vai procurar a tua turma, fedelha.
– Pior eh o meu avô.
– Ah, bom! O que ele faz?
– Eh desembargador. Que trampo irado! Muito irado!!!!!!
– Tu és filha de advogado, neta de desembargador e pede trampo para mim. Por que não trampa no Judiciário?
– Kra, agora naum dá +. Depois da súmula vinculante 13, o bixo pgou. Naum tem + mole. Qro um trampo no CP, Ju.
juremir@correiodopovo.com.br
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