terça-feira, 6 de janeiro de 2009



06 de janeiro de 2009
N° 15840 - PAULO SANT’ANA


Nem vestígio da crise

Estou de volta depois de 10 dias de folga. Apreciei muito os textos de todos os colegas que serviram de interinos desta coluna durante o período, mas não me responsabilizo por eles.

O Alexandre Bach, por exemplo, assumiu o lugar por um dia, deu um pau no Grêmio e no Internacional, chamou gremistas e colorados de parasitas e exploradores sociais e foi embora.

O espontáneo é o espectador de touradas na Espanha que, em determinado instante do espetáculo, pula da arquibancada para dentro da arena e vai tourear o touro, fazendo concorrência com o toureiro, mas sem pano e sem espada.

Ou seja, atrai toda a atenção do público, com a vantagem da irresponsabilidade.

O Alexandre Bach se portou como um espontáneo, criticou com veemência nada mais, nada menos que a totalidade do mundo futebolístico gaúcho e se mandou.

Não há nada mais temerário que um interino priápico. Os outros interinos todos foram sensatos e notáveis.

Em tempo: o Alexandre Bach tem razão num aspecto de seu destampatório contra a dupla Gre-Nal: os dirigentes lidam com fortunas em compra e venda de jogadores e não há nenhum tribunal de contas para pedir-lhes satisfações. Alguns até quebram os clubes que dirigiram, tornando-os inviáveis pelas dívidas e indignos futebolisticamente de sua grandeza por falta absoluta de recursos para fazer times.

Volto e encontro a sensação de que não há crise econômico-financeira internacional que supere o cotidiano das pessoas.

Ninguém quer saber de queda no emprego na Europa ou nos EUA, nem da alta do dólar que está inviabilizando as viagens para o estrangeiro: o que preocupa a todos aqui é a interrupção da BR-101 em Araranguá, os engarrafamentos na freeway, o pagamento de IPVA e de IPTU a ameaçar o equilíbrio orçamentário das pessoas, mas isso é problema de todo ano e não chega a ser crise.

Não vejo no espírito das pessoas e no noticiário qualquer vestígio da crise. Dá-se mais importância aos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza e à impressionante taxa de mortes em nosso trânsito, que só se iguala, em nosso meio, ao número assustador de homicídios por arma de fogo, ambos os índices superiores aos de mortes no Iraque e em Gaza.

Foram 22 assassinatos no RS em apenas 48 horas. É demais.

Fiquei particularmente condoído com a morte de um casal e seus quatro filhos num acidente de trânsito na BR-386 (Rodovia Canoas-Iraí) na sexta-feira passada.

Eram seis pessoas de uma família, o casal com 39 anos, quatro filhos com idades de 15, 13, 10 e seis anos, em direção a Ronda Alta, tinham viajado para um feriado em Não-Me-Toque. A família viajava em seu Voyage.

Em dado momento, querendo ultrapassar, o chefe de família topou na faixa contrária com um caminhão Mercedes Benz.

Foi um massacre. Na foto publicada em Zero Hora, o Voyage parecia um papel amassado, ninguém podia mesmo sair com vida daquele esmigalhamento total do carro.

Seis mortes num carro só.

Noto que as pessoas viajam tranquilas dentro de um carro, supondo-se seguras nas cabinas de pura lataria, tão frágeis quanto caixotes de madeira.

Mas as pessoas se imaginam num bunker ou no interior de um tanque de guerra, quando na verdade qualquer choque as atingirá violentamente, como se estivessem numa moto.

O carro, muito ao contrário do que as pessoas imaginam, é muito menos resistente que uma noz ou uma melancia.

E quem viaja nele pensa que está numa fortaleza. Este desastre acabou me deixando traumatizado.

Que trânsito perigoso este em que ninguém está protegido pelas carroçarias dos veículos, que não passam de véus ou de cortinas devassáveis a qualquer contato.

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