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terça-feira, 6 de janeiro de 2009
06 de janeiro de 2009
N° 15840 - MOACYR SCLIAR
O trema, tremendo trema, já era
Se existe alguém com um lugar garantido no céu é o professor Evanildo Bechara. Em primeiro lugar, pela dedicação. Membro da Academia Brasileira de Letras, Bechara não falta a uma reunião; quando não há reuniões ou eventos, está sempre em sua salinha, trabalhando duro. Não é pequena a tarefa que tem de enfrentar. Respeitado filólogo, Bechara tornou-se o vanguardista no processo de reforma ortográfica que agora se torna realidade, e que tem provocado não poucas discussões.
O assunto é mesmo controverso e nasceu de uma constatação óbvia: o português é falado e escrito em muitos países, mas de maneira diferente. No que se refere à fala, isto é inevitável; mas quando se trata da grafia a coisa muda de figura, porque nisso o português é exceção.
O espanhol que se escreve na Espanha, em Cuba, na Venezuela, na Colômbia, é o mesmo: a grafia foi padronizada. Já o português de Portugal escreve-se diferente do português do Brasil e diferente do português de países africanos. No entanto, Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe fazem parte – há exatos 20 anos – da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Se é uma comunidade, e uma comunidade definida pelo idioma, seria de esperar que esse idioma comum deveria ser grafado de maneira comum. Não era. Para tanto, seria necessária uma reforma ortográfica para compatibilizar as diferentes formas de grafia. Um acordo a respeito foi firmado em 1990, e aprovado no Brasil em 1995, mas não aprovado por Portugal, o que deu margem a uma polêmica: que tipo de grafia deveria afinal predominar?
Portugal é o país gerador do idioma; o Brasil é o país onde esse idioma é falado, e escrito, por maior número de pessoas. A discussão não envolvia, portanto, apenas aspectos ortográficos. Era, no fundo, uma questão de política, de poder, exigindo muita habilidade para lidar com as naturais resistências que, aliás, continuam aparecendo nos debates e nos artigos publicados na mídia.
Sem desanimar, mestre Bechara continuou lutando para que se transformasse em realidade a afirmação de Fernando Pessoa, para quem o idioma português, mais que o território, era a pátria. Agora, o acordo será finalmente implementado. Está sujeito a críticas, sem dúvida, mas foi o acordo possível, e certamente vai facilitar a difusão das obras em português, sobretudo porque simplifica a nossa vida.
O trema, por exemplo, não fará falta alguma, apesar do pronunciamento do nosso Sant’Ana, que afirma tremer só de pensar que lingüiça agora é linguiça. Trema, caro Sant’Ana. Pode tremer, mas o trema, para alívio da maioria, já era. Aliás, se eu tivesse de fazer algum reparo ao acordo, seria a limitação deste: só mexe com 0,5% das palavras.
Deveria mexer muito mais, sobretudo no que se refere a acentos. Já se disse que foi a Inglaterra que conquistou o mundo, e não Portugal, porque os ingleses não precisavam perder tempo acentuando palavras – nem se interrogando acerca de quando usar a crase, que tanto confunde nossa gente: na dúvida, o brasileiro acaba craseando tudo para não dar vexame.
De todo modo, estamos no caminho. Bons ventos sopram nas velas de nossos barcos, como sopraram nas velas dos navegantes de outrora. Um dia ainda vamos descobrir, todos os países juntos, o País da Simplicidade Linguística (sem trema nesse “Linguística”).
Agradeço os e-mails de Ana Beatriz Callegari, João Luiz L.Fontoura, Maria Morales H.Dias, Rosane Santos, Paulo Oliveira, Vitor Stepansky (todos comentando a coluna sobre Cuba), de Neide Maria La Salvia, Juan Carlos Arrosa-Carve (escrevendo do Uruguai – ZH chega longe), de José Diogo C. da Silva.
A Candice Soldatelli manda um nome que condiciona destino: um psicólogo chamado Hélio Deliberador (de fato, deliberar é parte do tratamento; pelo menos liberar é).
E que me dizem do diretor financeiro de uma empresa de telefonia que se chama Fábio Graham Bell, o mesmo sobrenome do inventor do telefone?
Melhor só a professora que dá nome a uma escola de Jundiaí: Escolástica Pontes. Muitas pontes ela deve ter estabelecido com seus escolares, não é mesmo? Feliz 2009 para todos.
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